CARTA A UMA AMIGA - Relacionamentos

Querida amiga,

Há uma grande diferença entre perder material (o corpo - ele ir embora, morrer) e perder sentimental (o coração, a mente, a alma - deixar de querer estar junto, não querer ficar junto, não estar agradável na situação).

Há perdas materiais ou sentimentais que são muito dolorosas, por isso temos que cuidar do que temos e gostamos e faz bem.

Temos que cuidar todos os dias para não perder o SENTIMENTO que nos une. Porque o corpo pode ir e voltar, com ou sem sentimento, mas o coração... temos que cuidar dele durante todo o tempo, em todas as palavras e ações.

Para você se dar conta da situação de vocês, só com muita conversa, amiga. Conversar, comunicar... sem medo... aberta para falar e escutar. O amor pede toque, sinais, olhares, sentimentos e sensações, mas também diálogo, muito papo, todo dia.

A gente tem que procurar se entender, se respeitar, se encaixar, abrir mão de alguns egoísmos nossos e aceitar os dele, entende?

Eu também já me senti assim. Também tive isso dentro de mim, me queimando... queria muito viver tudo que o mundo oferece. Tailândia, Índia, Nepal, Chile, França, Austrália, como sonhei com isso!... mas o destino colocou um amor na minha vida e eu vim parar em Porciúncula. Bão tamém...

Vivo todas as emoções do mundo aqui, com ele, com minha família.

Em parte, não ter vínculos é muito bom, minha querida! Vocês podem ir, ver, viver, mudar, experimentar. Isso é muito bom. Conhecer lugares, culturas, modus vivendi totalmente diferentes; isso é enriquecedor. Poder ficar enquanto estiver bom, quando não estiver mais, mudar. Isto é liberdade, livre-arbítrio.

Sei que deve ser difícil o relacionamento com sua família, mas é a SUA família, né? Tenho certeza de quando você se recuperar, quando se fortalecer, vão querer se aproximar novamente. As pessoas, no geral, dizem se preocupar com as outras. Mas vejo que se preocupam enquanto elas não precisam de nada, estão bem, com saúde, com dinheiro, felizes, conquistando. No entanto, na hora que tropeçam, que precisam realmente, que caem, que adoecem, que estão duras, tristes, perdendo, aqueles que diziam se preocupar vão, simplesmente, se recolhendo, tendo que "cuidar de sua própria vida", "que também é cheia de problemas". Sei como é isso muito bem! Grande parte da humanidade é cruel com seu próximo. É egoísta, interesseira, falsa.

Só quando precisamos, é que vemos realmente o que as pessoas sentem e podem fazer por nós. Muitas, muitas vezes nos decepcionamos com aqueles que a gente achava que estaria ao lado, que seria o apoio nas horas difíceis.

É muito complicado entender e aceitar isso, mas é assim que funciona. Às vezes, você vê um parente oferecer apoio a um estranho: para ser socialmente aceito. E ele não apóia quem está ao seu lado, precisando de tão pouco. Assim é o ser humano - tantas vertentes, tantos meandros, difícil compreender...

Pra viver, além e apesar disso, é preciso se fortalecer, crescer espiritualmente, se posicionar no mundo, saber o que se quer, o que não quer, criar uma proteção interna muito grande. Não para se fechar aos outros, mas para superar os outros, com todas as diferenças que existem entre os seres.

Por isso tudo, às vezes eu queria ser passarinho. Ou então, mais efêmero ainda, queria ser borboleta. É complicado ser gente. Gente complica demais as coisas, não acha?

Mas, enfim... estou aqui. Sou gente. Fazer o quê? Tentar viver entre gentes diferentes e buscar ser feliz a cada momento. Sem sofrer com o que passou, nem idealizar o que ainda virá (ou não).

Conte comigo. Te quero muito bem.

Rosimere Ferreira
Enviado por Rosimere Ferreira em 16/10/2008
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