Já fui como vocês

Daqui de cima dessa árvore de tronco robusto, tiro um velho papel amarelado e tento passar para vocês o meu pensar.

Para esses vocês que buscam auto - afirmação, um lugar no mundo, ou quem sabe pura diversão mesmo.

Vocês não vão se encontrar bebendo ou usando todas.Não vão conseguir se refugiar por trás de uma mancha.Vício é uma mancha como a de um bull terrier.Só cobre um olho.O outro ainda continua vendo tudo, e sentindo o que vê.

No 'projeto tamar' que é a noite, todo mundo é tartaruga.Todo mundo se esconde dentro de uma carapaça.As roupas - a melhor roupa para a melhor noite, mas a nudez que se tem que ter para enfrentar o dia seguinte, é sem dúvidas, a melhor vestimenta.

Prezo muito meus momentos, não troco nenhum dos meus gatos por nenhuma noite de êxtase.

Passei uma temporada sem ingerir nenhuma gota de álcool porque estava tomando remédios.

Tive depressão e fobia social.

E agora acho que porque não fico dopada pela medicina, tenho que me 'dopar' no vício.

Mas só acho apenas.Pratico muito pouco isso.

Ontem mesmo eu pratiquei.Meu irmão praticou, minha mãe.Nós praticamos.

Ontem fui blasé, dançando na pista com copinho na mão.

Frequento centro espírita, e 'centros viciosos'.

Beber, fumar, cheirar, nada disso faz com que eu 'interaja' com o resto do mundo.

Ler, amar, pensar, nada disso faz com que o resto do mundo interaja com o meu.

Tenho mais é que ficar na rede dos sonhos, sendo balançada pelo vento da paz.

A paz de espírito que tanto almejo.

Mas para alcançar a paz, é preciso ser hóspede do hotel da guerra.

Tem que ter esse duelo do 'eu santo', contra meu 'eu lascivo'.

Santa e louca talvez.

E lá vai ela procurar santidade na insanidade, com essa tão pouca idade, e com esse tamanho de profundidade.

Ludmilla Castro
Enviado por Ludmilla Castro em 15/11/2008
Reeditado em 15/11/2008
Código do texto: T1284817