Muitos anos depois

A você, que certamente se identificará,

Nos conhecemos quando ainda éramos jovens, pouco mais do que adolescentes. Tivemos um encontro casual. Nenhum dos dois poderia imaginar que desse encontro iria eclodir em nós ambos o sentimento mais belo entre duas pessoas.

O nosso romance nasceu de forma impetuosa. A recíproca identificação se deu de maneira tão natural, tão espontânea, tão imediata, de sorte que ficamos, os dois, com o pensamento voltado unicamente de um para o outro.

A nós parecia que um novo mundo se nos abria, dada a complementação que um representava para o outro. Tínhamos a impressão de que havíamos alcançado um tal gráu de felicidade

que tudo o mais poderia ser desprezado, já que nos dávamos um ao outro totalmente por inteiro.

E, assim, nessa doação absoluta, tivemos, sem dúvida, momentos que nos levaram a nos considerar parte indissolúvel um do outro, com a certeza de que o nosso idílio jamais seria desfeito e que teríamos, para o resto de nossas vidas, nos acompanhando uma felicidade plena e infinda.

Durante algum tempo desfrutamos dessa maravilhosa emoção que nos bastava e nos completava. Foram os momentos da mais pura entrega, da mais forte confiança, da maior alegria de viver, da maior doação, enfim, um amor indescritível, quase como se um fizesse parte intrínseca do outro.

Mas não contávamos com as surpresas e o imponderável com que a vida nos surpreende, a qualquer momento, de forma inevitável. Da mesma forma que o casual nos aproximou, ele também nos surpreendeu com uma sofrida separação. Você, tanto

quanto eu, por razões que conhecemos, não pudemos evitar o que se nos afigurava como impossível e inimaginável.

Tantos e tantos anos são passados mas a minha memória insiste em manter vivos aquele tempo e aquela felicidade. Hoje não posso saber se o mesmo acontece com você. Se não acontece, não a censuro. A vida tem que seguir seus caminhos

e novos conteúdos são necessários para preenchê-la.

Por todos os nossos maravilhosos momentos, desfrutados em toda a sua plenitude naqueles tempos, hoje tenho a oportunidade de lhe dizer estas palavras e confessar, embora todo o tempo já ido, que você me proporcionou a melhor fase da minha existência.

Espero que esteja feliz e realizada. Quem sabe um dia, também por acaso, ainda possamos nos ver e, por breves momentos que sejam, possamos voltar àquela época em nossos pensamentos. Caso isso não aconteça, serei sempre agradecido por ter vivido tão intensamente quando a tive e aqueles momentos de êxtase me seguirão pelo tempo que me restar.

Augusto Canabrava
Enviado por Augusto Canabrava em 09/04/2006
Reeditado em 22/08/2008
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