Uma carta no início de um Novo Ano.

Anibal Beça.

É uma satisfação ler sua poesia leve e sábia, nesse primeiro de Ano.

De fato temos vivido a "pauta dos clichês", das emoções contidas em pequenas latas de plástico e de alumínio onde beberagem da pior qualidade nos é servida com pompa e circunstância. O único propósito de tal dieta é banalizar tudo a partir da relativização de tudo. Nada é importante no mundo atual. Qualquer idiota tem uma tribuna ao seu dispor e dela fala sobre tudo: sobre a paz no mundo, sobre o direito das classes oprimidas, sobre o aborto e sobre a crise financeira mundial. O compromisso que deveria haver entre a palavra e o ato, simplesmente inexiste. A coerência entre discursos sucessivos também é desnecessária. O que falo hoje não precisa estar coerente com o que falei ontem porque afinal não abro mão do meu direito de rever meus conceitos quando sinto que eles caducaram diante dos meus objetivos. E o mundo-colcha-de-retalhos se atola nos casuísmos e nas missões tapa-buracos. E assim tudo prossegue: uma direita cada vez mais ostensivamente agressiva e, uma esquerda, dourando pílulas mais que centenárias, visa unicamente a transferência de renda entre classes sociais. Dessa forma deleto tudo e toda a perfumaria da mídia e concentro-me pragmaticamente em dois únicos aspectos: o mundo está abarrotado de gente e grande parcela dessa gente não consegue sobreviver senão na marginalidade e na criminalidade. O segundo aspecto é que a sociedade que elegeu o consumismo como única motivação e valor, hoje esbarra nas limitações do planeta Terra. E esses dois padrões são a contra-mão no mundo capitalista, a quem interessa o consumismo e o crescimento demográfico por alargarem os mercados, e são também a contra-mão na lógica das esquerdas por sobreviverem das massas de manobra.

De forma que, prezado amigo, resta lhe dizer que meus votos de esperança e de bons dias para 2009 estão entremeados com essas preocupações, sobrevivem e lutam por sobreviver no ambiente inóspito onde valorizo a paz, o amor e o bom relacionamento entre os homens. Cada dia mais, em vez de querer um mundo de igualdades, quero a Ética diante das desigualdades.

Um abraço.

Marco.

Carta em resposta e agradecimento ao amigo, pela gentileza ao compartilhar e pela beleza de seu poema: "Pauta de Clichês para o Ano Novo (Anibal Beça)".