Manaus, 13 de Janeiro de 2009.


ENTRE O PECADO E A VIRTUDE
 

 
Estranho como consigo me sentir completamente liberta nesse espaço! Imagino que talvez uma ou duas pessoas tenham alguma curiosidade em ler as palavras aqui impressas. E até posso saber quem são elas.
 
Não, eu não me envergonho por traduzir o pensar desencontrado, a ambigüidade que me caracterizam, os numerosos contrapontos a direcionar-me o caminhar. Aqui, sem qualquer preocupação com regras, métricas, rimas, número de leituras e comentários, ou mesmo se poderão considerar exposição medíocre, desnecessária e vulgar, sou o que sou!

Porém, o que sou? Olho no espelho e vejo um ser errante que procura equilibrar-se numa tênue e frágil linha que delimita o pecado e a virtude. Bem distante da teoria Socrática do instigante: conhece-te a ti mesmo!
 
Conhecer-se significa o que afinal? Assimilar todos os valores éticos e morais ensinados pela família, religião, sociedade? Reafirmá-los como opção consciente de vida que não, raro, nos infelicita, mascara e nos transforma em latente contradição, espalhando nossas neuroses, frustrações e ranços, estrada afora? Que nos torna cativos das letras como única forma coerente de expressão; entretanto, alicerçada no anonimato seguro?
 
Ou conhece-te a ti mesmo é o olhar firme e sereno sem cobranças indigestas? O notar-se protagonista e co-responsável pela coletividade, sabendo de que cada ação corresponde a uma reação de igual intensidade, que influencia a existência de muitos seres?

Esmagador é o peso de percebe-se responsável não apenas pelas próprias atitudes e, então, nos escondemos.

Achamos que isso sempre significará que infelicitamos alguém. Esquecemos do contra-peso e do quanto tornamos especial a existência de outros semelhantes. Ah, não pense que estou falando em compromissos, laços indissolúveis. Estou apenas afirmando que o fato de respirarmos, pensarmos e sentirmos faz diferença para alguém! E sem que, com isso, percamos nossa individualidade... aquilo inerente ao meu EU e que ninguém possuirá! Não perdemos a identidade ao nos inserirmos num universo mais amplo. Abrimo-nos e aprendemos!
 
Ainda não encontrei a resposta para o meu questionamento; uma vez que fui aprisionada entre o pecado e a virtude!
 
Sou insubstituível! Tornei-me pecadora pela ausência da Humildade. Tomada pela Vaidade esqueci a modéstia e o respeito ao próximo. Fiz-me de especial, mais importante que outros iguais a mim. Mas, mãe, eu sei que em teu coração ninguém jamais me substituirá e tenho de pedir perdão por crer nisso!
 
Busquei transformar o corpo num templo de Castidade; contudo, tal virtude passa pelo pensamento; e é mais simples controlar os atos que o pensar. As carências carnais se manifestam quando menos espero e, por mais que consiga dominá-las em ação, deixo-me levar pela Luxúria e peco. Talvez se esquecesse que sou mulher. Mas, todos os meses algo me relembra tal fato e tudo fica mais difícil! E eu ardo em noites insones quando o que mais desejo é ter a convicção da natureza espontânea das minhas reações. E choro... sozinha e entregue.
 
Um alívio momentâneo... a Avareza não faz parte do vocabulário por mim utilizado! Porém, estou muito distante do total desprendimento, do doar sem esperar receber que transformam a Fortaleza em algo de sublimidade absoluta! Houve épocas em que assim me idealizei; as experiências vieram mostrar o contrário. Desejar reciprocidade é pecado? Mesmo quando sublimamos o sentir e a dor?
 
Antigamente eu imaginava que Gula fosse tão-somente a fome fisiológica exacerbada! O ato de alimentar-se em si! Considerava-me absolvida desta acusação. Será a paixão uma forma desmesurada dela (a gula)? Pois, algumas vezes, tomada de paixão perco a disciplina, o auto-controle, a moderação, a Temperança! Felizmente, tal tipo de gula é passageiro... contudo, com recidivas constantes! Bem, o espaço para mim é mais extenso... então, sobra-me tempo a fim de encontrar soluções!
 
Agora a maior e mais absoluta ambigüidade: tenho Preguiça! E ao mesmo tempo a Diligência é marcante em minha personalidade. Reflete-se até na profissão que escolhi cujas exigências perpassam por presteza, ética, decisão, concisão, objetividade, ação e trabalho. Não estou apta, portanto, a avaliar este ponto específico.

 
Há pouco ao necessitar refazer um texto inteiro que não salvei pude constatar o grau de Paciência abrigado no fórum da intimidade desta pseudo-escritora! Sinto-me injustiçada no que lhe diz respeito: sempre me cobram mais e mais dela! Esquecem ou eu me esqueço de dizer que também tenho limites. Passo por IRAda. Renego tal rótulo! Em absoluto! Talvez um pouquinho brava... nada que cause danos sérios!
 
E por fim, Caridade e Inveja! Tenho noções e determinação de me concentrar na primeira; no entanto, em fase de aprendizado estou. Quanto à segunda tive poucos e doídos rompantes! Evaporaram! E minha esperança é que isso sempre ocorra!

Retornando ao Conhece-te a ti mesmo,
anseio o dia de se tornar concreto, real... sem lamúrias inúteis e com profundos avanços! Ainda tenho de superar meus pecados capitais e minhas virtudes. Até lá... a vida prosseguirá sendo a mestra!