Meu amor,
 
                        Olho para o horizonte e percebo como o tempo passou. Éramos duas crianças brincando na rua de pés descalços e com olhares travessos. Amarelinha, queimada e corridas de bicicleta são as recordações daquele tempo saudoso em que a maior preocupação era brincar, brincar e brincar...
 
                        Um pouco mais crescidos trilhamos nossos caminhos de formas diferentes. Eu com meus sonhos de princesa e você com sua vontade de formar um “conjunto musical”. Entre bonecas, livros, bicicletas e guitarras fomos consolidando nosso afeto, mesmo com os corações desencontrados.
 
                        Tristeza na rua. Era hora de ir embora para o interior em razão de uma súbita transferência para manutenção do emprego de papai. Crianças reunidas na despedida, aperto no peito, lágrimas escorrendo sem cerimônia. Olho para o final de rua e vejo você com a cabeça abaixada riscando a calçada. Seu silêncio me incomodou, não houve um adeus, um último olhar.
 
                        Com o passar dos anos, novos projetos e novas responsabilidades assumidas. Novos amigos nesta fase de vida onde os sonhos de menina cada vez mais ficavam sufocados com o vestibular à vista. Dias inteiros dedicados aos estudos. Em poucos meses a tão sonhada entrada na universidade foi concretizada.
 
                        A menina sonhadora adormecera, em seu lugar uma mulher com muita determinação e vontade de crescer tomou seu espaço. Estágios, excursões, pesquisas de campo e enfim a tão esperada formatura, ufa! Novamente o tempo surpreendeu, pois tudo ocorrera tão rápido, parecia que o vestibular havia sido no ano passado...
 
                        Ciclo novo à frente com o retorno à capital. Perspectivas de empregos frustradas na pequena cidade, mas certamente seria mais fácil uma colocação no mercado de trabalho em Curitiba.
 
                        Mudança feita! Novas adaptações, reencontro com velhos amigos e a busca por um emprego formavam a rotina.  Engraçado que quando me aproximava da casa antiga o coração começou a bater mais forte e fora de compasso. Imediatamente seus olhos castanhos passaram a invadir meus pensamentos.
 
                        O que teria acontecido com você? Muitas perguntas e nenhuma resposta Naquele momento a ansiedade me tirava do chão. Senti uma saudade do seu Zé que vendia picolés no portão de casa, do banho de chuva na rua, das brincadeiras que nos deixavam muito felizes.
 
                        Em uma gélida manhã de inverno, ao recolher o jornal deixado no portão, olhei para sua casa. Há dias vinha estranhando a falta de movimento. Percebi algo diferente no cenário. Havia um carro estacionado na garagem. Meu coração disparou só de imaginar que poderia de uma hora para outra rever você.
 
                        O frio me fazia mal. Desde o retorno da pequena cidade localizada no norte do estado eu sofria com o clima. Certa manhã amanheci com dores fortíssimas no corpo e febre alta. Sim, a gripe me atingira. Foram dias de repouso forçado, não podia sair à rua, mas meus amigos de infância vinham me visitar todas as tardes.
 
                        Em uma das tardes, tive uma surpresa muito boa. A campainha soou à mesma hora e fiquei a imaginar que em poucos segundos meu quarto estaria repleto de amigos.
 
                        Para minha surpresa, não ouvi os passos nem as conversas animadas do pessoal que sempre ecoavam do hall de entrada. Meu coração começou a disparar e não entendi a razão. Apenas três batidas na porta do quarto foram suficientes para me deixar novamente ansiosa.
 
                        Abri rapidamente a porta sem esperar que fosse você a visita daquele dia. Nossa, quanta emoção! Calafrios, face ruborizada e taquicardia! Senti-me novamente uma menina sonhadora...
 
                        Desde aquela tarde não deixamos de nos ver. Seus olhos castanhos reacenderam o inocente amor de infância. Em pouco tempo chega o pedido de namoro! Quanta emoção, era tudo o que eu queria!
 
                        Nossas vidas eram repletas de atividades. A dedicação ao emprego e cursos de aperfeiçoamento profissional faziam parte de nossas rotinas. O tempo passava rapidamente...
 
                        Dois anos de namoro e o pedido de casamento! Quase explodi de alegria neste dia! Nova rotina estabelecida com o noivado, preparativos para o casamento e com a procura de um pequeno apartamento que seria o nosso ninho de amor!
 
                        Chega o dia de nosso casamento, o mais feliz de minha vida!!! Tudo transcorreu bem. Emoção em cada palavra dita pelo celebrante... A aliança finalmente colocada no dedo anular da mão esquerda e o perfume das flores de campo na igreja marcaram esta data tão especial.
 
                        Desde então, trinta anos transcorreram! Novas emoções foram vivenciadas: a chegada de nossos filhos, a compra da nossa casa, formatura dos meninos, aumento da família com as nossas queridas noras e com os tão esperados e abençoados netinhos.
 
                        A melhor forma que encontrei para homenageá-lo foi com as minhas memórias de menina. Queria deixar perpetuada a certeza de que o amei desde o tempo em que brincávamos despreocupados na nossa rua ...
 
                        O amor que sinto por você é o mesmo de outrora. Muitas vezes me vejo como aquela garotinha ansiosa que o esperava para novas brincadeiras. O tempo amadureceu o sentimento, mas é o mesmo encanto e a mesma paixão que me fazem cada vez mais amar você!
 
                        Sem você, não há o sol para iluminar os meus dias.
 
                        Sem você, as flores não enfeitam o meu caminhar
 
                        Sem você, o céu não possui estrelas.
 
                        Sem você, a lua não cintila.
 
                        Sem você, não há o amor.
 
                        Meu querido esposo o amor que sinto por você é infinito!
 
                        U}m beijo com todo o meu carinho para você!
 
                        De sua menina.
 
 
                       

* carta "encomendada" por uma grande amiga.




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Renata Christina Machado de Oliveira
Enviado por Renata Christina Machado de Oliveira em 27/01/2009
Código do texto: T1407042
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