De letras
 
Amiga,

Antes de qualquer outra coisa, as minas sempre produzirão; algo tem que ser eterno debaixo desse céu.
Olhando meu calendário, que não é nada comum, o fato da sua permanência me surpreende. Aliás, você poderia explicar o motivo de suas idas e vindas incomodar-me tanto? Afinal não estamos coladas, ou estamos espiritualmente? Se bem que meu espírito parece que me escapuliu na mesma aventura que a sua, vivemos nos esbarrando, ele e eu.
Alguns ganham e muitos perdem... Há uma contrariedade em tudo aquilo que faz com que eu não torça para nada, covardia? Talvez... Mas que eles se entendam, não entrei em disputa nenhuma.
Por que é que a gente tem que ter uma posição, optar por um lado em tudo? Ainda acredito que o muro é a melhor invenção da humanidade.
Não estou conseguindo desenvolver poeticamente o fato de ser um cisco no grande circo do Criador. Acredite, conheço quem se sinta ator principal do espetáculo. Gosto de ser apenas plateia, o que é do show se não tiver público? Nada de bilheteria, daí o prejuízo do dono da lona.
Já entendi porque suas andanças me incomodam; é a tal conectividade que sempre anda em baixa, lá embaixo, mas nos resta o bom e eficaz correio, complicado é se entender a caligrafia, nos acomodamos tão rapidamente ao comodismo, redundante, eu sei.
Ando irritada com os hábitos que passei a ter, os piores deles são os que aleijam e matam. Sabia que amar é um vício? Não há clínica que dê jeito. Antes que replique, estou falando de diversas formas de amar e não de paixões sexuais. Ah! Peguei-te! Sei que ia contestar, sei que não amamos mais que o estritamente necessário; superamos a fase do faz de conta há tempos.
Odeio nós, sejam quais forem, os laços são tão mais singelos, mesmo os mais pomposos.
Quero ir para o Recife, nada de Pasárgada. O caminho para Shangri-lá ainda deve estar por lá, em algum lugar, mas para que morrer incertamente de frio se posso me banhar ao sol do Recife?
Minas produz belezas, só para refrescar seu ótimo senso de direção.
Produza, mina!

Beijos