A Promessa

Meu pai, José Vilela da Fonseca, integrou a primeira turma do Tiro de Guerra de Divinópolis. Tempo bom que marcou demais a vida dele. Com que carinho recordava as façanhas que, em grupo, realizavam. E o número de cada um dos 150 colegas estava bem guardado em sua memória!

No dia da formatura, meu pai assumiu um compromisso com o Sargento Vicente Gomes de Lima, que lhe fez um pedido:

— Vilela, você é o 49. Quando o Tiro de Guerra fizer 50 anos, reúna a turma, faça uma festinha de comemoração do cinqüentenário. Reúna todas as suas forças, procure uma pessoa para coordenar o movimento da festa... E comemorem. Não estarei lá, mas vocês vão se lembrar de mim e desse meu pedido.

O pedido para meu pai significou uma ordem, que o acompanhou toda a vida, na trajetória no casamento, na criação e educação dos filhos e nas preocupações do dia a dia.

Ano após ano, ele tinha sempre presente aquele compromisso, no silêncio do seu coração. Como cumprir a promessa, não fazia a menor ideia.

E a data comemorativa foi chegando...

Longe do contato com os colegas, na Fazenda do Pontal, cuidava das vacas e das plantações durante o dia e, à noite, a insônia fazia-lhe companhia. Então pensava e não achava uma solução adequada para que tudo acontecesse como lhe pedira o Sargento Vicente.

Para se ver livre daquela grande ansiedade, resolveu abrir-se com um dos filhos. E este espalhou a notícia para todos nós. O Antônio e eu decidimos, assim, ajudá-lo. Como ele havia guardado o convite de formatura, que listava o nome de todos os formandos, através da lista telefônica encontramos alguns, com os quais promovemos vários encontros preparatórios.

Era uma verdadeira festa o dia das reuniões com aqueles senhores.

Comportavam-se como adolescentes, trazendo à tona lembranças que já estavam adormecidas. E riam a valer, demonstrando a maior felicidade.

Formaram equipes, dividindo as tarefas. Todos trabalharam com afinco para tentar localizar mais colegas. Muitos moravam fora, sendo mais difícil o contato. Com tristeza lembravam-se dos colegas falecidos.

Finalmente aconteceu uma festa inesquecível, com missa solene, cobertura fotográfica, banda de música e um delicioso coquetel!

Nossa emoção falou alto, presenciando a alegria daqueles quarenta senhores já judiados pelo tempo e, principalmente, a felicidade do meu pai em cumprir a sua promessa!

Publicada no Jornal Agora de 11 de julho de 2010.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 30/04/2006
Reeditado em 13/08/2010
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