Aos Sobreviventes

Santo André, 16 de março de 2009.

Aos sobreviventes.

Estamos no ano de 2009 d.C., uma tremenda façanha dos que conseguiram chegar até aqui.

Evoluímos muitíssimo em nossa tecnologia, como vocês já sabem, nossos avanços foram meteóricos, desde a1ª vez do homem na Lua. Hoje são freqüentes as excursões interplanetárias.

A família “Jetson” se consideraria primitiva, se vissem como nos relacionamos hoje. Só para citar, hoje é possível fazer tudo “on line”, para seduzir o que tem que ser atraente é o Nick (apelido virtual), para contatos íntimos, lógico depois de apresentar o pretendente à família, basta um phone e uma webcam. Se os pretendentes forem muitos, não há problemas, tudo se resolve num clique.

Para educar um filho, estão sendo utilizadas cada vez mais as vantagens dos eletrônicos, eles nem se quer ficam sujos. É TV, game, jogos de rede e celulares. Hoje eles não rolam no chão, não brincam na terra, não jogam futebol na real. Área de lazer é a lan house e não o quintal e fazer amizade hoje é através de “avatar”. Hoje os problemas são outros, tendinites, problemas de coluna, obesidade e problemas na visão.

A marginalidade também está informatizada, hoje pedofilia via internet é a coisa mais comum e trombadinha mudou de nome, hoje é harcker, ao invés de estilete ou canivete a abordagem é viral.

Macarrão da Mama, aquele que aguardávamos ao domingos antigamente, agora você pode pedir no fast food 24hs, basta que eles tenham Delivery, fácil assim...

Aliás, tudo se faz via rede, aos que são cristãos devotados tem até a Bíblia virtual.

Mas apesar de já poderem visitar a Lua, aqui no planeta Terra as ruas continuam congestionadas, alagadas ou interditadas.

Os casais modernos, até mesmo pela situação econômica, já não querem famílias numerosas, filhos no máximo dois, há os que optem por um filho e um animal de estimação.

Claro os animais que ainda não estão extintos, porque a maioria dos animais, nossos filhos e netos só encontram em fotos e vídeos.

A aberração da natureza é notar que mesmo com tanta evolução, nada foi criado no sentido de minimizar a fome, a miséria, a desigualdade social. Existem muitas doenças novas, elas evoluíram também, quando desconhecem o que seja, logo dizem que é uma virose passageira.

Regredimos milênios também, às vezes me vejo no antigo Egypto, na era de Nefertite, que se casou aos nove anos e foi mãe poucos anos depois. Hospitais e Maternidades registram freqüentemente crianças gestantes, grávidas de outras crianças, de um pedófilo qualquer ou dos próprios pais.

As mulheres ainda são discriminadas, têm religiões que as cobrem o corpo inteiro, que as proíbem de votar, que as mutilam, e até nos países de 1º mundo ainda existe a prática de pagarem menos as mulheres, menos até que aos estrangeiros ilegais.

Aqui no país onde vivo, apesar de terem reconhecido os direitos das mulheres, ainda são elas as vítimas das agressões domésticas, juntamente com seus filhos e filhas. Elas carregam a responsabilidade de sustentarem a família, de muitas vezes fazê-lo sozinhas, mas ainda existem “companheiros” que se divertem traindo, batendo e violentando.

Envelhecer, como já disse em uma matéria um jornalista*... Envelhecer é um risco. Aposentado ainda tem salário de fome, ainda são jogados em asilos, nas ruas, nas sarjetas ou são espancados, muitas vezes pelos próprios filhos. Os que não passam por essa situação degradante, ainda correm o risco de ficarem abandonados nos corredores dos hospitais públicos, porque o “beneficio” é insuficiente para pagarem um atendimento digno. Digno entre aspas, porque atendimento público não é atendimento gratuito, passamos a vida pagando, atendimento particular, convênios privados que apesar de custarem o “olho da cara” têm mais restrições que direitos.

O planeta Terra está agonizando: é aquecimento global, efeito estufa, desmatamento, poluição... Teve um período que dizíamos: a Terra está gritando... hoje nem é possível ouvir seu grito.

Mas ninguém tem tempo pra isso, estão ocupados demais com as guerras. Tem a guerra Santa, que de Santa só tem o nome, o povo se mata há séculos por Alah, por Hashem e Jesus Cristo, mas não sabem que na verdade a razão de empunharem armas está no petróleo. Que pessoas poderosas disputam das salas de seu alto escalão, enquanto morrem aos milhares: crianças, jovens, civis inocentes, numa quantidade tão devastadora que extinguem uma nação.

Aqui não temos este tipo de guerra, mas temos a guerra do narcotráfico, as balas perdidas têm sempre algum corpo como destino certo.

Não bastasse isso, ainda existem os que não são guerrilheiros, não são terroristas, não são traficantes, são só depressivos. E de posse de armas dos próprios pais, matam a esmo, porque estão se sentindo sozinhos, humilhados, ignorados... Então vamos nos vingar do mundo, vou me suicidar, mas porque não levar alguns inocentes comigo.

É mais ou menos essa a linha de raciocínio.

Ainda bem que mesmo com tudo isso, ainda existe os sorrisos das crianças, velhinhos de cabelos branquinhos caminhando na praça, casais apaixonados casando nos cartórios, nos templos e nas tribos.

Eu ainda vejo muita gente animada, nas filas dos cinemas, alguns ainda indo ao teatro e eu mesmo choro quando vejo algumas cenas.

Ainda existe solidariedade, nos momentos difíceis e amizades que superam qualquer crise.

Ainda fazemos planos a longo prazo, mesmo que viver seja um perigo...

Somos sobreviventes...

Ainda que pareça insano, devemos prosseguir, porque estamos vivos.

Princesa Lara
Enviado por Princesa Lara em 16/03/2009
Reeditado em 16/03/2009
Código do texto: T1490003
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.