Meu querido,
Ah, eu vivo e morro pelas paixões
E só elas me aproximam do sagrado
E por ti, ou por mim
Fui acima e além
E abaixo em poucos dias
Mas nada disso é incomum a mim
E bem sabes como sou
Quisera só dormir nos braços teus
Meu corpo descansa em paz
Teus olhos me acalmam
Não me precipito a falar de amor
Tampouco das paixões comuns
Gosto de te ouvir me surpreendendo sempre
E embora saiba que assim é melhor
O romance seria uma desculpa para estar mais perto
Não escondo mais nada
Não há mais razão
Talvez comece a entender meu afeto
Quando perco nossas outras chances
Gosto das mãos e dos cabelos
Do olhar e do sorriso
Da mágica sublime
Do surrealismo
Das coisas impossíveis
Possíveis contigo
Mas que história de amor não é bela
Sem um pouco de tristeza?
Não bastasse já ser bela por natureza
Pela arte que nos cerca
Inteligente, melancólica
Sonhadora e inconformista
Tão volátil e tão profunda
Posso dedicar-lhe estas palavras
Agradecidas
Saudosas do corpo
Repletas da alma
Paradoxalmente felizes e tristes
Que sabem que você vai sempre longe
E não querem prendê-lo
Se um dia chegares a lê-las
Saberá que vos pertencem
E talvez nesse dia sejam apenas lembranças vagas
Sempre foste uma embriaguez de vinho
Noutro dia lembrança reticente
Uma fruta de gosto diferente
Da qual é difícil lembrar-se o aroma com clareza
Mas mesmo se não me fizer mais sentido
Como tantas outras vezes
Saiba que agora é assim
E de certa forma sempre será verdade neste tempo-espaço
que ficará para trás
Sempre haveremos de ter um pedaço do mundo só nosso
Um beijo no portão
Uma estação de trem
Uma carta
Um pedaço de pão
Um livro
E uma ou duas noites pra recordar