SENHORITA ESTOU APAIXONADO

Apaixonei-me pela dama de traços invejáveis, senhorita, poetisa de face embranquecida pela manhã caminhando nas alamedas, passos firmes, macios, sensuais, conquistando olhares de todos os lados.

Seu espírito, inocente, não imagina o quanto é desejado por olhares estranhos, não sente o som eloquente dos admiradores lhe devorando o corpo, rasgando-lhe as roupas, amando-a loucos para tocar sua face.

Ali, estou estático, vendo-a tão linda, escrevendo suas frases de amor, ocultando seu nome verdadeiro, exalando charme nas palavras, ditando arcanos no traçar leve das silabas, pintando as telas do tempo com as letras da paixão, falando de amor.

Do outro lado da tela, o fã, apaixonado de alma, mas solitário, mira seus olhos naquele monumento de mulher, fica estarrecido de inspiração, inebriado no poder da atração, presa em seu peito, ante a beleza deslumbrante da Deusa, passeando nas veredas intocáveis da mente.

Cada frase exposta na tela do computador é uma chama apoditica dilacerando o peito, invadindo a casa do coração, alumiando sonhos, adejando nas paisagens estendidas na alma o desejo de escrever seu nome nas laudas do amor irrefutável, impossível. Ademais sei ser real a sua existência, seus contos de amor sedimentados de ternura, indo, vindo nas portas fechadas dos sonhadores, românticos, afáveis, solitários por natureza ou, por ausência da alma certa, a fim de encontrar nos rostos vagando nas multidões, a sua cara metade.

Vejo-a nas miragens das noites, no brilho constante das estrelas, na brancura das nuvens no fim dos montes, na vestimenta das açucenas, no eldorado dos meus sonhos, nas palavras poéticas do seu espírito, nos poemas distribuídos, lidos a cada dia.

Aperto o peito, leio seus versos, enrolo-me nas finíssimas sombras da sua candura, deito no manto salutar da saudade, choro sentindo no ar a impossibilidade real desse amor tão excitante, tão estranho.

Coloco as mãos na tela fina do computador, buscando sentir suas energias no emaranhado de letras a desafiar meus sentimentos, abraço as palavras nos amávios suntuosos da saudade, dirijo-lhe eflúvios de felicidade, sigo levando na alma, a certeza de reencontrá-la na próxima poesia.