Nossos filhos.

Amiga, falamos nos nossos filhos. Elogiamos, reclamamos, pensamos que sabemos tudo deles, mas de vez em quando, acontecem surpresas. E desmoronamos.

Gosto de fazer retrospectivas, antes de tirar conclusões, quando algo acontece nos relacionamentos, que os afete.

Com relação aos filhos, as mulheres de nossa geração tiveram uma trajetória bastante difícil. Decidimos sair do conforto de nossos lares para assumirmos, fora deles, responsabilidades para as quais nem sempre estivemos preparadas. Éramos preparadas para sermos esposas, mães, donas de casa. Desesperadas, muitas vezes.

Muitas de nós não recebemos apoio familiar, pois assumirmos responsabilidades fora do lar, era opção nossa. Nem sempre ditada pela necessidade financeira. Na verdade, essa criamos em função do desejo de termos uma economia própria. Claro que com o passar do tempo, essa economia se somou à da sociedade conjugal.

Termos um emprego tinha a conotação de capacidade, de realização pessoal, de afirmação. “Sou capaz de muito mais que cuidar do lar”. E mostramos de modo tão eficiente, que passamos a acumular cada vez mais tarefas.

Na retrospectiva, costumo relembrar minha convivência familiar. Penso ter sido bastante presente, dentro da minha perspectiva. Da dos familiares, só eles podem responder.

Aí está o nó da questão. Será que eu pensei na necessidade dos familiares, ou pensei somente na minha? Será que usei de bom senso? Será que nunca deixei de estar com os filhos, usando o trabalho como desculpa, para fugir de responsabilidades chatas?

A todo instante alguém repete as palavras sábias de Gibran Kalil Gibran: “Vossos filhos não são vossos filhos...” Lindas palavras. Mas, quando a maturidade chega, esquecemo-las, pois pensamos que eles, os filhos, as setas que nós os arqueiros, atiramos ao vento, deveriam permanecer aos nossos pés. Deveriam aceitar nossos caprichos, satisfazer nossas necessidades de atenção e carinho, que muitas vezes talvez, lhes tenhamos negado, em nome da nossa realização pessoal.

Eles não se vingam. Eles nos copiam. Se nós não estivemos com eles quando pensavam que lhes devíamos exclusividade da nossa atenção, porque agora devem eles abrir mão de seu momento?

O segredo de tudo é o bom senso. Não sei se fomos ou somos filhos melhores do que são os nossos. Mas podemos partilhar com eles o que tivermos aprendido. Sejamos pacientes com eles, como desejamos que eles sejam conosco. Respeitemo-los, como desejamos ser respeitados. A maturidade não nos confere o direito de interferir negativamente, na vida daqueles por quem somos responsáveis, desde a concepção até o último de seus dias. E, se ainda assim, minha amiga, eles não tiverem para conosco o comportamento que desejáramos, entendamos que há muitas coisas que não nos é dado compreender. Aceitemo-los assim mesmo. Amemo-los ainda mais, pois quem menos parece amar, é quem mais do amor necessita. 20/04/2009