UMA CARTA PARA MEU FILHO!

Por serem vários os pedidos desse texto, a cópia está liberada, devendo apenas ser respeitada a autoria.

Luz e Paz!

Isabel Viviane

Engraçado, parece que foi ainda ontem que você se deitava em meu colo, se encolhia todo e ficava parecendo um "pacotinho".

Me abraçava, me beijava, dormia junto a mim, esclarecia todas as suas dúvidas comigo, fazia todas as perguntas, contava todos os seus segredos, confiava em mim. Parece mesmo que foi ontem que você precisava de mim e eu tinha utilidade na sua vida.

Agora não é mais assim. As coisas mudaram, se transformaram e foi tudo tão rápido que a gente só percebeu quando a distância já se tornara muito grande entre o filhinho de ontem e o filho de hoje. Agora já é hoje e o ontem ficou lá mesmo, onde o deixamos, você e eu.

O meu amor por você não é mais o mesmo. Em algum momento ele cismou de ficar ranzinza, cobrador, adulto e responsável. O meu amor por você esqueceu-se das brincadeiras, das risadas, dos passeios despreocupados e felizes, cheios de guloseimas. O meu amor por você perdeu a memória do carinho, do cuidado, da preocupação em verificar seu sono, seu banho, seu dever de casa, seu almoço e seu jantar...acho que meu amor por você envelheceu junto comigo. Mas ainda assim é amor. E grande!

E o seu amor por mim? O que houve com ele? Acaso tirou férias, viajou, mudou-se com você? Não. Acho que não. Deve ter apenas crescido também. E ao crescer, conheceu um mundo maior do que o mundo que eu apresentava e representava no meu egoísmo e cuidado de mãe. E esse mundo novo, maior, mais colorido, apresentou à você outros amores e outras maneiras de amar. Mas ainda assim, o seu amor por mim continua. Chateado, entediado, desconfiado e afastado. Mas eu sei e você também, que ele está lá, num porãozinho qualquer do seu coração. E nós sabemos que a qualquer momento ou situação da sua vida, o seu amor pode e deve contar com o meu amor. Nossos amores vão se trombar muito por nossas vidas a fora. Eu não abdicarei do meu papel de mãe e nem você do seu papel de filho. Mas o mundo continuará a girar e num desses giros você se tornará PAI e então eu serei AVÓ. Num dia qualquer o seu amor de pai crescerá e ficará também ranzinza. Eu sairei ganhando porque meu amor voltará a ser criança e brincará de roda com meu neto. Por essa época, nossos amores sentar-se-ão juntos e trocarão idéias como dois velhos amigos que com certeza serão.

Eu amo você filho! Não do jeito que você quer, mas do jeito que eu sei. Torço muito por você! Ainda que em silêncio, saiba que estou sempre na primeira fila e ainda que não faça barulho, sou sempre a primeira a aplaudí-lo. Boa sorte filho querido! Um beijo!

PS: Não jogue fora essa carta. Guarde-a. Quando a saudade aperta o meu peito, eu a consolo lendo as cartas que meu pai escreveu pra mim.

Isabel Viviane