Ao meu irmão Otto

Otto,

Esta carta é difícil de se escrever porque fala de coisas tão caras à nós. Fiquei surpresa com a sua atitude e feliz por ter sido você quem o hospital chamou.

Me assustei em ver o Pai, naquele estado em casa. Pensei que você tinha enlouquecido, afinal o estado em que ele se encontrava era de um paciente que deveria estar numa UTI! Me assustei ainda mais quando você me disse que foi chamado ao hospital para desligar os aparelhos que o mantinham vivo! Na hora pensei: Chamaram o filho certo. Sei que eu ou o Marcio não teríamos a coragem ou a bravura para tal feito e agora estaríamos na missa de sétimo dia do nosso pai.

E a mãe? Pobre Maria se não fosse seu filho a defendê-la de si mesma! O alcoolismo já a teria levado de nós!

Mas depois lembrei de 11 anos atrás, quando fiquei grávida aos 17 anos e você lutou pela vida de mais um Garcia, outro pequeno e frágil Garcia, meu filho! Quando eu sofria pressões de todos os tipos para fazer um aborto e você me disse que eu não tinha o Direito de tirar a vida de um Garcia, e que ele lutaria com todas as suas forças para viver, como é característico de nossa família.

Hoje o pequeno Dornello é um garoto cheio de vida, e o nosso pai já não precisa de nenhum aparelho para se manter vivo e até canta, e há uma semana estaria morto se não fosse a sua coragem e bravura para defender os seus.

Querido, obrigada por nunca nos ter abandonado, se somos uma família é porque temos um incansável lutador como você em nosso meio.

Com amor,

Flávia