A TUA DOR

Dói, eu sei, dói hermeticamente.

Mas não vais, agora, cuspir em todos os crepúsculos, renegar

a corda lançada do porto.

Não vais jogar teus poemas ao primeiro cão que passar à tua porta.

Ou será que vais plagiar a Apassionata?

Claro que não vais mudar teu nome para Amacleto Sinfronio da paixão.

Aceso em éter, vais sacrificar todos os pássaros e queimar as borboletas e pisotear nos roseirais?

Deitarás por terra a Física Quântica e a Teoria Ondulatória, confundirás Einstein ou Heisenberg?

Vais encobrir as maiores misérias com as mais feias infâmias?

Inventarás um aparelho que inverta as horas, os séculos, a guilhotina e o beijo?

Saquearás os cofres da Matriz e violarás as sepulturas à meia-noite?

Não. Não farás nada disso.

Tudo passa e essa dor passará também; verás teu dia rodeado de luzes e de vésperas.

Conduzirás tua nau por mares nunca dantes navegados para buscar pontos, vírgulas exclamações e encontrar a deusa das tuas fontes.

És tão improvável como o amanhecer do dia seguinte.

( viajando em versos de Renault)

Chaplin
Enviado por Chaplin em 11/06/2009
Código do texto: T1643625