meu amor:

Meu amor:

O que seria dessa poeta sem a chance de amar?

O que seria dessa poeta, se tivesse que tocar o objeto amado para poder amá-lo, senti-lo?

O que seria dessa poeta, se não houvesse a dor da distância do objeto amado para aumentar o desejo do toque?

O que seria dessa poeta, no entardecer da vida, se não tivesse surgido esse ser etéreo, quase irreal, para lembrá-la que as explosões acontececem independente de idade, lugar, tempo ou hora...só acontecem.

O que seria dessa poeta se não continuasse a sonhar, acreditar que encontro é possível, e, sonhar...sonhar, como só os poetas sonham...sonhar acordada. Voar em seus sonhos, tomar as maõs do cavaleiro errante, e, desbravar o infinito. Juntos, comer estrelas, babar núvens, se embriagar de gozo, contar grãos de areia,e, fatalmente exercitar o toque de maõs, de pele, de vida.

Também brincar com o imaginário como se fosse real, rir do nada, do quase nada ou do tudo. Parar em qualquer beira, sem razão de ser ou talvez para regar aquela plantinha com um mijo. E, que tal, estender as mãos, as quatro, em conchas e colher mangabas moles, moles, cheirosas, melequentas. Come-las e deixar que seu suco, escorra boca abaixo num pega-pega sem fim nem começo.

Talvez viajar para descobrir o mundo, do sertão ao litoral, num jumento faceiro, vagaroso e cheio de manhas. Lamber o sol do sertão e se embriagar com as ondas do meu mar do bessa.. Juntos, ouvir ciranda, ou uma sinfonia de Mozart, ensaiar alguns passos, mesmo que a levesa já não esteja presente, e, de preferencia que seja um dia de chuva fina, fria e cortadora. Comer tapioca, fruta-pão, articum-cagão,araça, saliva, se sentindo uma gigante, mesmo sendo ínfima. Acordar com gosto de sapotí, jogando lírios para quem encontrar, não precisa conhece-los, andando como se o chão estivesse coberto de borboletas multicores, todas voando ao som de flautas mágicas.

Meu amor, é lícito enlouquecer, é lícito endoidar, é lícito amar estúpidamente, e, fora de hora ou lugar. Esqueça essa lucidez, que te impede de viver perigosamente. Enlouqueça só um pouquinho, o necessário para fazer a vida parar e te fazer entender que viver é um perigo, mas, não viver não é só vegetar, é morrer em vida.

Um beijo ensolarado.