Um dia é pra matar, o outro é pra morrer
Ele caminhava pela noite escura
Disputava espaço com a lua
As vezes dizia baixinho
"quero paz, mas não encontro"
Sua cabeça era sempre confusa
O olhar assutado começou a notar
Que alguém caminhava por perto
Desta vez, talvez, não iria atrás
Recolheu seu corpo num banco
Triste, olhava para a lua
Agarrou firme a faca e cravou na madeira
Não sabia se era ódio ou calor,
O que circulava no corpo
Lembrou que era uma noite fria
Também dos olhos com agonia
Sua ultima vitima, talvez uma menina
Caída nos seus braços, morta e fria
Um dia é para matar, o outro é pra morrer
A gente come e mata, pra sobreviver
Se sente dor, tem que fazer outro sofrer
Porque quando o sangue fala sem ter o que dizer
Se precisa de veneno para conseguir viver
E o frio daquela noite ele venceu
Sentiu calor em um crime só seu
Descansava ao lado daquele corpo
Quieto, duro, ereto, sexo morto. Frio.
Numa luta covarde, aplicou um golpe sujo
A faca na garganta do adversário traído. Caído.
Sentiu seu sangue infectado ferver de prazer
Ainda olhou fundo nos olhos do moribundo
Ceritificando mais um crime bem feito
No escuro daquela madrugada, ele descansara
Ao lado do corpo sangrento, com alivio na alma
Não dura muito a sensação de conforto
Sua alma pesada se sente confusa
Um coração turbulento, é o que ele tem
Sente sede, mas não sabe como saciá-la
Olha para a lua e sente um desconforto
Foje daquele lugar, entra de susto em um beco escuro
Um dia é pra matar, o outro é pra morrer
O prazer e o sofrimento andam sempre lado-a-lado
Carnificina e poesia, são como vida e morte
O que nasce junto nem a faca pode separar
E as leis da natureza são coisas que jamais irão mudar
O auto-desprezo o consome friamente
Pensamentos tortos em sua cabeça demente
Escorado em uma lata esquecida de lixo
Se alimenta do que sobra da sua refeição
Ouve as sirenes apressadas pela rua
Sabe que a policia esta a sua procura
Não quer outra vez ser enjaulado
Chora ao lembrar da ultima internação
Aperta firme a lâmina da faca
Sente o cheiro do seu próprio sangue
Escreve na parede o que se lembra do seu nome
E deixa marcado com sangue sua lápide horrenda
Despreza a vida, e os seres que a desfrutam
Não se lembra exatamente do que lhe causou dor
Só sabe que no passado também foi vitima
Porém agora este filme acabou
A faca toca sua garganta. Cortou sua vida, o maníaco se calou.
Um dia é pra matar, o outro é pra morrer
As flores são bonitas e expressam poesia
Porém os seus espinhos causam dor e até morte
Cada poema tem seu espinho, cada monstro sua sanidade
A vida é bem mais bela que a morte...
...Um dia e pra matar, o outro é pra morrer