As quatro estações

São Sebastião do Ribeirão Preto, 07 de julho de 1882.

Amada senhorinha Fabiana Ferreira de Menezes,

Passei toda a tarde ouvindo As quatro estações. Breve e único ensejo de quebrar a monotonia da fazenda.

Emocionei-me, deveras, com as evocações do senhor Vivaldi. Imaginei você ao meu lado em cada cena reconstruída pela minha imaginação doentia. Sou, deveras, um eterno convalescente, em constante e febril processo imaginativo. Sofro procurando a poesia contida em cada palavra.

O sonhar doce do nosso amor na praia. Pausa ardente durante uma chuva de verão.

A melodia: antever um beijo sarraceno, molhado e violento.

A composição: retratos do nosso amor em cada nota.

A sinfonia: todas as estações vividas ao seu lado.

Também pensei em um longo passeio de mãos dadas num belo e velho jardim. Caminhar simples e inspirado pelo perfume de todas as flores do Éden. Perpétua sensação primaveril.

Solenes, andaríamos despreocupados, no outono sem fim, pelos bulevares de Paris. Você olhando-me como uma rainha. Olhar carregado de toda a promessa de felicidade. Retribuiria tal honraria prestando todas as homenagens que um cavalheiro deveria conferir à sua nobre dama.

No Café de la Paix, veríamos as folhas caindo, douradas e lentas, sobre a calçada desolada e cinza.

Melancólicos, enfrentaríamos o inverno com a esperança de termos o apoio incondicional que os verdadeiros amantes possuem. O frio nos deixaria ainda mais juntinhos. Brigaríamos todas as noites para nos enrolarmos nas cobertas e faríamos tudo indefinidamente, no vagar das nossas respirações.

Doces lamentos que só poderiam terminar com um beijo e o compromisso de novos carinhos. A solidão e o desespero sendo banidos para sempre. O abraço que aqueceria toda a alma, embevecendo todos os nossos sonhos numa cândida música feita para nos amarmos e nos enternecermos com a nossa união.

Saibam, principalmente, aqueles que desejam conspurcar o nosso enlace, com suas vilanias e seus ardis, que o nosso estar juntos tem sido o mais lindo episódio da minha história, que venho realizando, conquistando e almejando sensações que jamais acreditei serem possíveis.

Beijo-te amorosamente em todas as estações de todos os anos que ainda viveremos.

Do seu criado,

Matheus Marques Nunes.

Marques Nunes
Enviado por Marques Nunes em 10/07/2009
Código do texto: T1692988
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