O JORNALISMO OPINATIVO

O JORNALISMO OPINATIVO

Carta do editor (ago. 2006) aos leitores do Jornal Chico de circulação no Tocantins

* Heráclito Ney Suiter

Vários leitores vêm questionando sobre o conteúdo do Chico e gostaríamos de colocar alguns pontos a respeito do estilo que definimos para o nosso informativo. Ao idealizar o Chico partimos do princípio da necessidade em Gurupi e região de um jornal de caráter informativo do tipo opinativo. Na opinião do grande jornalista Phillipe Breton, é necessário se opinar com ética, baseado em argumentação, e isso é uma ação democrática que possibilita o debate de idéias em diversos campos do conhecimento, e essa é a linha que seguimos.

Cláudio Abramo, ícone do jornalismo impresso no Brasil, responsável pela reforma gráfica do jornal ‘O Estado de São Paulo’ na década de 50, diz que: “É possível fazer um grande jornal apenas relatando os fatos, mas acredito que um jornal assim não é capaz de cumprir o seu papel, já que não vai até o fim das coisas e deixa ao leitor a incumbência de julgar por si só. É uma maneira de fazer jornal que não me parece apropriada para um país como o Brasil neste momento”- 1988.

O exercício da opinião no jornalismo é algo necessário não só para os próprios jornalistas, mas fundamentalmente para o leitor cidadão e para sociedade. É a manutenção de um espaço em que se tornam públicas visões de mundo divergentes, polêmicas que podem ser estabelecidas democraticamente, análises estruturais e conjunturais que podem balizar decisões mais coerentes.

Ao longo do tempo os jornais foram se distanciando de textos acadêmicos, mesmo não sendo uma das características do jornalismo brasileiro, e isso não é muito salutar, pois restringe o leitor a um texto pobre, sem conteúdo. Alguns leitores, já acostumados com o velho sistema de pirâmide (cujo resumo da matéria é apresentado logo no primeiro parágrafo do texto) e com matérias mais curtas e menos abrangentes, um hábito criado no mundo moderno sob a alegação de que as pessoas não têm ‘tempo’ para se manter informadas, seguindo o mesmo molde dos telejornais, ainda não se adaptaram ao nosso estilo.

Se um texto enxuto, resumido (mastigado), tem a vantagem de velocidade na transmissão da mensagem não podemos deixar de admitir que ele abra uma brecha enorme para manipulação do redator, e isso é fato, é uma técnica mais nociva do que o próprio jornalismo opinativo, pois neste, mesmo que o leitor não concorde com a opinião, conheceu um outro lado ou pensamento sobre determinado assunto, cabendo a ele uma análise crítica da pauta abordada.

O Chico é distribuído gratuitamente, o leitor não precisa pagar, e ler ou não é sua livre opção. O pior seria se o leitor pagasse pelo jornal e após lê-lo percebesse que o veículo de comunicação, de forma sucinta, sequer abriu espaço para ele raciocinar sobre um determinado assunto abordado. Outro fato é que os jornais pagos usam de sensacionalismos nas chamadas de suas capas para vender o jornal, é uma questão de sobrevivência do mesmo, que no caso do Chico, não há necessidade dessa técnica, você lê se quiser ele é gratuito; trazemos os assuntos na capa, o leitor observa e vê se tem interesse em levar o jornal para casa podendo até mesmo abri-lo antes mesmo de levar e ver se realmente interessa o assunto da chamada.

A princípio, todos diziam que o gurupiense, não gostava de ler, e isso era uma percepção errada – inclusive tenho que admitir que enquanto profissional de publicidade também tinha essa percepção equivocada -, rodamos quinzenalmente 2.000 edições e no prazo de pouco mais de três dias já está esgotado, às vezes, dependendo dos temas, não sobra nem para colocar no “cacete” (cabide de arquivo). A população gosta de ler sim, só depende do assunto abordado. Se o periódico conseguir acrescentar além de notícias, informações que possam ser úteis, o leitor não terá preguiça de lê-lo. As revistas com artigos de qualidade (raras) são ainda caras para nossa população e o Chico é o que podemos dizer de jornal/revista, pois na maioria das matérias (mais de 50%) trata-se de artigos de interesse coletivo de caráter social e educativo, artigos que mesmo tratando-se de copidescagem de outros autores, dá muito trabalho para garimpar na internet, livros, jornais, revistas e outros, e ainda ter que sintetizá-los para que caibam em nosso formato, é tão mais massada como escrever um texto de própria criação.

Acreditamos que o Chico vem agradando mas, mesmo assim, tem muita coisa a ser melhorada, o impossível seria acreditar que 4.000 jornais mensais fossem usados para acender churrasqueiras ou para ‘outras finalidades’ antes de ser lido ...

* O autor é Editor Chefe do periódico impresso Chico, que circula no Estado do Tocantins. Para ler mais textos do autor acesse:

http://www.webartigos.com