Análise de meus dias II

Às vezes paro para perceber o quanto de realidade vivida tenho impressa na minha mente. Porém, tudo se esvai como fumaça em meio a uma forte rajada de vento. Diante disso me pergunto se sou eu quem não cuida das minha vivências ou se são elas que se negam a mim num momento posterior? Viver essa contradição desde a base mesma da percepção com a qual se constrói a própria realidade de mundo, é extremamente angustiante. Angustiante no sentido literal da palavra, porque é uma luta constante contra a morte. Não a morte fisica mas as sucessivas mortes pelos quais tenho que passar ao longo do meu processo de maturação psico-afetiva mediante o qual sou capaz de estabelecer relações mais ou menos agradáveis e edificantes para ambas as partes, isto é, para mim e para o outro com o qual me relaciono.

Saio na expectativa de encontrar algo que me preencha mas por toda parte só existe o vazio metafisico da minha e das demais existências. Já não mais existe um paradigma de normalidade segundo o qual é possível construir a propria vida. Não obstante apercebo-me cercado - se não cerceado- por vários horizontes de sentido e de significado que, na maior parte das vezes, são diametralmente opostos. A longitude de um pólo ao outro amplia a noção de absurdo no qual a vida como um todo se vê inserida. Por isso, torna-se impossivel examinar o quanto de experencia tive ou estou tendo. O mundo a minha volta é absurdo demais para mim.

Quando penso na possibilidade de "explicar" a minha realidade a partir de uma compreensão cunhada em ambito religioso o faço por não mais ser capaz de recorrer a minha capacidade de reflexão sobre a minha propria experiência do cotidiano. A vida, nesse estagio de compreensão, ganha um quê de misterio e de beleza, porem perde na objetividade e se envereda pelos campos da fantasia , fantasia essa que esconde realidades não resolvidas no dia-a-dia. Sair das contradições de meu dia-a-dia para me refugiar num universo fantástico é confessar, tacitamente, a minha incapacidade de resolubilidade de meus próprios problemas. Em outros termos é aceitar a resignação. Ao passo que essa resignação tornar-se uma constante o que poderá acontecer comigo senão uma subordinação a toda e qualquer ordem pré-dada? Sendo assim , por mais caótico e frenético que possa estar o meu dia não posso ceder ao primeiro movimento de resignação, caso contrario, serei subjugado no final de uma serie ininterrupta que concorre para a minha anulação diante da relação que estabeleço com tudo aquilo que me rodeia.

Dranem
Enviado por Dranem em 30/07/2009
Reeditado em 30/07/2009
Código do texto: T1726863