Medos & fraquezas

Presumo que hoje estejas mais exigente… E eu por isso mesmo mais vulnerável!

Sóbria mas cansada, cheia de dores no corpo inteiro mas continuo de pé, com uma mordaça na garganta que me impele de respirar no sentido das coisas mas que ainda mantenho a postura sem figuras absolutamente insólitas.

Estou aqui, com algumas dificuldades que me deixam frágil, trémula e rigorosamente nervosa, cheia de medo e ponto final.

Sinto-me criança, no sentido negativo das recordações a apagar da nossa infância, sinto-me neste preciso momento acolhida no canto mais escuro da casa das minhas memórias, com os joelhos a tremer, o rosto escondido entre as mãos, e fazendo um ruído com a própria voz, de forma a não ouvir o tempo, a solidão, e aquele silêncio absoluto que nos absorve e arrefece a alma.

Sinto-me triste, com as unhas definitivamente corroídas, os dedos pesados e mais cansados que eu, com os olhos cheios de náuseas e reflexos de desilusão.

Talvez um pouco acinzentados, nublados, sem vida, mas tudo isso é inevitável.

Quando o universo à nossa volta se mantém sisudo, sem luz, sem vontade ou destreza.

Quando a mentira continua a demover mundos circunflexos e ainda movem montanhas.

Quando a sensibilidade deixa de passar por um toque do dedo mindinho ou até subitamente com um olhar e no seu lugar se constrói um muro duro, frio e incolor que separa dois universos.

E ainda me falas tu de cores?! De dança?! De Vida?!

Ah…Como gostaria de ver tudo isto da mesma varanda que tu, porque quando vejo, as vertigens são um facto, e é tão fácil cair.

Por isso tenho eu os joelhos em feridas constantes, por isso sempre que o meu filho se queixa de terceiros eu ensino-lhe desde já a defesa, não precisa do meu tamanho, tem que se preparar com o dele, porque o mundo vira-se ao contrário, e nós não podemos controlar os maremotos e os tsunamis da nossa vida.

Porque hoje não é um dia qualquer mas é um daqueles dias, é mais um dia que as lágrimas me consomem o coração, me despem a saudade e fazem de mim uma caixinha de fragilidades, de panos rasgados, cartas e rascunhos, mais um dia que me lembra a vida do avesso, e que a morte nos assalta o presente, rouba-nos luz, cor que nos preenche a mais bela paleta de cores, chamada de “Nosso olhar” nos coze a voz e nos manda àquele enorme precipício, no canto mais escuro da casa que vive no mais ínfimo das memorias, em que simplesmente não nos apetece falar com ninguém, ver ninguém ouvir ou compreender.Porque o nosso egoísmo é tão atroz que nos achamos incapazes de entender que alguém já possa ter sentido a mesma ferida, a mesma crosta que sangra sempre e para sempre.

E hoje penso no meu pai, talvez faça mais um ano, mais um dia, mais uma hora, ou simplesmente porque hoje tenha mencionado a sua vida, o registo do seu nome ou o nosso parentesco…Mas não falei da falta que me fazes, da dor da tua ausência, do arrepio que sinto na espinha quando um vulto me trespassa…Quando estou só e me sinto embalada, acompanhada.,,

Vá-se lá compreender o sentido da vida…

Da minha irmã, do meu pai, da minha avó, de alguém que amamos… E pelo meu egoísmo não me deixar absolutamente ver da mesma janela que tu, caio constantemente, faço feridas, gatafunhos no papel, mato saudades em colagens de fotografias antigas…

E é por tudo isso que estou em tons cinza, estou de luto esta madrugada, mas com a serenidade do orvalho da manha à espreita, na rebeldia das emoções e apesar de vidrada ao passado, tatuada na alma ou com o coração em cacos, estou rendida ao meu filho e àqueles que amo, estou entregue com todas as certezas à vida…

E como mencionei antes, este universo é graúdo, mas tem milhares e milhares de germens de trigo…De jardins imensos…De flores, magia e alegria…

Estou cansada, viro o corpo de lado, assemelhada a uma pequena lagarta…Na esperança da borboleta, na visão do arco-íris…De tudo aquilo que o tempo não nos rouba…Sonhar é o erguer da alma, nasce connosco e vive para lá da morte.

Não estou mais fraca... Estou mais forte...

Joana Freitas

Joana Sousa Freitas
Enviado por Joana Sousa Freitas em 14/06/2006
Código do texto: T175216