Uma mãe moribunda

Carta de uma mãe moribunda

Filho...

Eu não tenho muito tempo de vida. Já estou desenganada pelos médicos há muito tempo. Por isso é que eu queria falar com você insistentemente e com urgência. Quando lhe mandei a primeira carta, foi ao saber dessa notícia. Queria partir deste mundo louco sem peso na consciência. Se não fosse por isso eu não teria feito o que fiz.

Nunca me perdoei pelo meu passado e saiba que sofri muito. Lutei por muito tempo, silenciosamente, para combater o câncer, mas agora, fui vencida por esse mal que vai corroendo a gente internamente, dilacerando todo o nosso organismo. Já está em um processo generalizado e não tenho sentido nenhuma regressão apesar dos fortes medicamentos que venho tomando constantemente. Além das dores insuportáveis, os efeitos colaterais do medicamento causam desânimo, depressão e falta de vontade com qualquer ação. As dores terríveis que não passam nunca derrubam qualquer um. Realmente não estou nada bem. Nada bem. A cada dia surgem novos sintomas. É uma morte lenta, silenciosa, traiçoeira.

Não pense que me entreguei. Não! Lutei muito, mas enfim, fui vencida. Vencida em uma batalha desigual. Agora, sinto-me totalmente fragilizada.

Hoje seria diferente. Lutaria ao seu lado. Mas infelizmente é tarde demais. Sinto que minha hora se aproxima. Agonizo em um velho hospital. Agora, nesse momento, eu choro! Choro por tudo, mas principalmente por não ter ficado mais tempo ao seu lado.

Deixo de recordação esta foto sua que carreguei comigo durante todos esses anos passados. Esta foto e sua recordação muitas vezes aliviaram minhas aflições noturnas e solitárias. Guarde-a com carinho. Seja forte sempre e perdoe essa mãe, ausente, mas que tanto te ama.

Amália, Maria ou Sueli? Não importa o nome! Um beijo terno, carinhoso. Com amor,

Sua mãe.