Uma carta que ainda não pode ser lida...

Oi...

Você sabe que esta carta está sendo escrita por alguém triste neste momento... Eu estou triste.. Talvez se eu conseguisse chorar seria mais fácil suportar...

Você sabe porque eu estou triste... Estou triste porque eu quis ser feliz... Não consegui... Não consegui te fazer feliz por isso não consegui ser feliz... A vida tem acontecimentos tão intensos e tão cheios de dor... Eu nunca vou entender o que aconteceu entre nós...

Eu sempre amei você de uma forma diferente... De um jeito que eu nunca consegui antes... Eu lhe dei um amor que eu não conhecia que havia dentro de mim... Por você, embora você negue, eu fiz coisas que jamais fiz por outra mulher, acho mesmo que eu não vou nunca mais conseguir fazer mesmo porque tem coisas na nossa vida que só acontecem uma vez... Foi especial... Mas foi... O verbo é passado...

Nunca entendi como eu me apaixonei por você e acredito que por isso que esse nosso amor foi tão louco, tão lindo...

Os dias passam, as noites transpassam as madrugadas e meu coração continua seguindo essa trilha de lágrimas de sangue...

Sempre que ando pelas ruas, olho jardins... Às vezes vejo rosas vermelhas... Por isso as ditas lágrimas de sangue... São lágrimas que tomam a cor dessa flor tão bela, um símbolo em meu coração... Pena que também pelos espinhos...

Eu quase morri tempos atrás, desta vez num acidente de carro... Quando eu acordei dentro daquele carro retorcido, tombado, toquei o fio de sangue que escorria da minha testa e eu descobri que vinha mentindo pra mim mesmo há muitos anos... Tenho medo de morrer sim... Medo de verdade... Descobri que já amei de verdade e por isso tenho medo de morrer... Medo de te perder... Medo de esperar centenas de anos pra te encontrar de novo... Dentro daquele carro numa ribanceira fria, escura, onde minha consciência sequer sabia direito o que havia acontecido, eu pensei em você... Queria ter certeza de que você não estava no banco do passageiro... Minha lucidez não existia e eu temia que você estivesse ali... Quando tudo foi retornando e meus olhos encontraram seu espírito ali perto de mim como um anjo que cuida, eu descobri esse medo... Descobri esse amor...

E eu nem podia te tocar... Aliás, eu queria que você me tocasse, me abraçasse, me socorresse... Não senti a dor dos meus ossos que quebraram, senti a dor de não poder segurar em suas mãos...

Pessoas como eu, orgulhosas, desafiadoras um dia experimentam o avesso... É um sinal...

A mente retrocede, a memória excede e lança momentos e sentimentos a circular velozes pelas veias...

Sempre tudo entre nós foi especial, pra mim foi... Seu perfume, sua voz, seus olhos, sua luz, sua pele... Seu sorriso...

Esta carta não tem data... O tempo não existe neste caso... É indiferente se foram dias, meses, anos... Se seriam décadas...

Tem sentimentos que são tão fortes que superam o tempo, fazendo-o nada...

Se lembra das rosas? Dos bombons?

Lembra-se dos vídeos? Das madrugadas em frente da sua casa?

Eu me lembro...

Será que acabou? Ou talvez a pergunta que eu deva fazer seja por que isso aconteceu... Por que nos conhecemos num átimo... Nos entregamos num ímpeto... Perguntas... As perguntas só tem sentido se tem respostas... Não tenho respostas... Ao menos agora...

Sabe... Está chovendo lá fora... Está frio... Um vento movimenta leve a cortina neste quarto... Acho que o silêncio aqui é tanto que nem meu coração eu sinto bater... E pensar que foi aqui que sonhei os sonhos que hoje você realiza... Aqui neste quarto quando abro a porta, antes de entrar minha imaginação gosta de imaginar que você está sentada tímida na borda da cama... Como sempre foi...

Sinto que você está aqui, mas entro e não é verdade... Será que você esteve aqui um dia? Será que foi um sonho?

Não sei... Os poemas estão ainda aqui em folhas de papel sulfite e por mais que eu evite gosto de lê-los ali, à luz do abajur... Sinto que não são palavras, versos... São uma história...

Abaixei a cabeça agora e me deixei emocionar... Uma lágrima molhou o teclado e se tornou em oceano... Meu Deus... Onde foi o engano?

Lembra do seu olhar apaixonado por um sorvete? Lembra-se do seu coração batendo a mil com um bichinho de pelúcia nas mãos e que eu dei? Eu me lembro... Lembro que meu coração sentia-se feliz ao te entregar um sorvete, uma rosa, um bichinho de pelúcia... Um poema... Um beijo...

Quanto tempo faz que isso aconteceu?

Talvez daqui algumas décadas esta carta possa ser lida... E tomara que após ser lida eu possa voltar o olhar para você ao meu lado e apenas sorrir junto do seu sorriso... Guardar a carta e fechar os olhos num beijo em seus lábios... E saber aqui dentro de mim que foi só uma carta que eu escrevi em um dia de chuva onde gotas também escorreram por meu rosto...

Sandro La Luna
Enviado por Sandro La Luna em 19/09/2009
Reeditado em 26/09/2009
Código do texto: T1819818
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