Lei doida aprovada na Câmara de Tietê

A estupidez mostra unhas e dentes

Uma das poucas coisas que me fazem ferver o sangue é observar e codificar o meu tempo, o mundo que me gira ao entorno. Antes me afobava a ideia de compartilhar tais escritos, mas, hoje, percebo que isto não é o mais importante. O mais importante é o bem cuidar para que permaneçam além do agora. Talvez pareça egoísmo, indiferença ou doideira mesmo; pouco me importa. Mas, eu é que não vou ajudar a acelerar o trem que conduz a humanidade ao estômago faminto do Anjo Mau!

Antes de tudo, informo que nada tenho contra quem quer que seja, e se algum termo parecer pejorativo, fica esclarecido que as palavras foram escolhidas por critério exclusivamente etimológico. Eu não as inventei, apenas uso-as conforme a normatização da língua.

Sobremaneira, entretanto, irritam-me o cretinismo e a bestialidade. Esses tais tiram-me do casulo e, então, boto a boca no mundo. Principalmente quando ignomínias apontam para a educação, que é minha área, apesar de não exercê-la (e nem me pergunte o motivo porque da resposta sairia uma tese de doutorado). Três grandes aleijões atravancam a educação dos brasileiros e garantem a imbecilidade nacional pelos próximos 10/15 anos, para ser bem otimista. Pois, fosse eu pessimista, diria sem rodeios e sem medo de exagerar: duas, três ou quatro gerações, doravante, jogadas no lixo!

Os três aleijões que nos mantêm no submundo da era da tecnologia têm nome e sobrenome e são eles: a lendária figura do professor eventual, o salário cômico do professorado e a esdrúxula proibição de eletrônicos nas escolas. A aclarar-me o pensamento, boto em miúdos, no próximo parágrafo, um por um destes itens. E nem sei por que o faço, afinal, não há tanta latência assim; tudo é bem óbvio! A questão é simplesmente esta: em qual lugar se quer chegar? Desejam-se trabalhadores qualificados ou contentam-se com o analfabetismo funcional das escolas e universidades nacionais? Mas, isto já é quase outro tema. Volte eu aos aleijões.

Pela ordem: o professor eventual. Esta vítima do capitalismo selvagem submete-se a parlapatear (ministrar aula de qualquer disciplina quando desconhece todas) durante uma hora, diante de 40 alunos, para ganhar dez ‘real’ e alguns algum pontinho que facilitaria uma possível contratação. Além de vítima do capitalismo, é fruto do meio, ou seja, sabe apenas o que lhe foi ensinado. E o que lhe foi ensinado na escola pública e na faculdade particular? Isto em se tratando de indivíduos com nível superior, pois, grande parte tem apenas o ensino médio mesmo. Resumo: o cidadão canavaliza o ensino durante uma hora, ganha quase ‘deizão’ e o alunato aumenta a ojeriza pela aprendizagem.

Ainda pela ordem: o salário engraçado do professor. Este profissional é o único que parece não precisar de dinheiro numa sociedade essencialmente capitalista. Não precisa vestir-se, não precisa alimentar-se, não precisa consumir livros, revistas, intenet... Ano passado, fazendo a prova que selecionaria professores, conheci um... uma... Um traveco professora (pronto, falei). Conversando, falou-me maliciosamente que lecionava durante o dia e fazia bico à noite. Está certíssima minha amiga andrógena; somente assim é possível trabalhar por mera ideologia. Um segredo, que fique entre nós: professor da Capital tem uma cara de fome de meter medo!

E por fim, a estupidez mor: a proibição de eletrônicos nas escolas. Que absurdo, meu deus! Tal insanidade equivale a proibir o tráfego aéreo e defender a reimplantação do tropeirismo. Como prescindir de um dicionário virtual, uma gramática virtual, uma enciclopédia virtual na explanação de uma aula seja de qual matéria for? Perdoem-me, mas, não dá para ficar calado. É muita asneira para uma cabecinha chata só. E ainda dizer que tal esdruxulez já foi aprovada em Tietê, e tramita na Câmara Federal?! Eu não acredito! Imbecilismo também há de ter limites!

E para concluir: deixe-se o tropeirismo no passado e adapte-se ao voo! Não se pode levar a sério professores e autoridades que rejeitam, ainda que em sala de aula, o poderoso auxílio de aparelhos celular, ipod, mp3, etc. Fosse este país extremamente conservador, tal assunto, no mínimo, tornar-se-ia tema transversal. Onde formar-se-á o profissional 'personal tecnológico' que o mercado atual exige?

Penso que os vereadores tieteenses (a lei ainda não foi sancionada pelo prefeito) confundiram respeito ao passado com viver no passado. E são coisas tão distintas quanto o sol e a lua. E digo mais: se tal projeto passar na Câmara Federal, será hora de cair fora do Brasil, pois, continuaremos sendo a nação ‘lanterninha’ mundial do conhecimento.