Para Danilo

Sinceridade/Verdade

Há uma relação quase antitética entre a sinceridade e a verdade. Só porque o que falamos seja totalmente sincero não quer dizer que seja verdade. Ser sincero apenas significa que o que dizemos tem absoluta aceitação pela nossa mente, não que seja coerentemente verdadeiro e fiel aos fatos. Somente quem é constantemente e eternamente sincero e verdadeiro é Deus. Isso quer dizer que você não deve considerar o que vou dizer como verdade absoluta. Trata-se de algo sincero, mas (por eu ser humano) não absolutamente verdadeiro. E por quê? Ora, simplesmente porque eu não te conheço o suficiente para dizer: “você é assim”, “você deve ser assim”, “você pensa assim”, “você deve pensar assim”. Então leia com senso crítico. Certo? Ok, vamos lá.

Para começar: você é novo. Ou seja, você ainda não tem filhos. Nunca foi demitido. Não ingressou numa faculdade. Enfim, você é novo. Isso quer dizer que não espero de você experiências e conhecimento de algo que você não viveu. Ora, você é apenas uma adolescente. Apenas isso! Tudo isso! E não te vejo, analiso, aprovo, reprovo baseado em um padrão que não cabe a você. E... bem... você pediu para eu te definir...

Você é altamente introspectivo. Como eu. Você investiga comportamentos, analisa, observa, estuda, aprova, reprova. Você faz isso por prazer e para conseguir respostas. Como eu. Sabe, a introspecção é uma habilidade incrível e útil desde que usada corretamente. Um problema dela é que ele tende a te prender dentro de padrões que você mesmo cria. Pessoas introspectivas tendem a se sentirem superiores que as outras pelo fato de analisarem ou filosofarem sobre a fenomenologia, teleologia, sentido e outras questões da vida que elas consideram de suma importância. E são importantes. Mas percebo (em você) que a introspecção ao invés de produzir uma mente saudável, livre e feliz, produziu uma mente tensa, acelerada e presa. Outra coisa: quem nos deu permissão para analisarmos a mente alheia? Quem disse que devemos deduzir, induzir, perscrutar nossa própria mente? Se, no final, o produto é triste e infeliz, o processo e os motivos do processo devem estar errados.

Você nunca (ou talvez nunca) falou sobre a presença de Deus em tua vida. Fico preocupado com alguém que conhece e gosta tanto de psicologia, introspecção, reflexões e outras coisas referentes à mente, mas não conhece (ou pelo menos parece) aquela sensação de ter Deus consigo. Pode parecer abrupto, mas o tipo de sentimento que levou Cruz e Sousa a falar da morte, a nebulosa, completamente destituído da beleza que a Bíblia dá para a morte dos santos, parece ser o mesmo sentimento presente em teu espírito. Eu tive uma amiga, semelhante a nós dois: introspectiva e ligada à psicologia amadora. Ela é ex-adventista e nunca conseguiu se livrar de complexos e padrões que ela mesma se impôs. A diferença entre mim e ela era: eu conhecia a Deus e introspecção, e ela só conhecia introspecção. Será esse teu caso também? Não falo do conhecimento filosófico, especulativo, teológico, muito menos teísta sobre Deus. Mas do conhecimento experimental. De acordar de manhã e se perguntar: Senhor, o que tu queres de mim hoje? Controle minha mente para que ela não ande por sendas tortuosas e perigosas.

Você lê livros da tua linha de pensamentos. E isso é normal. Mas desde que os livros têm o poder de reafirmar e fixar idéias em nossa mente, será difícil haver um clareamento em teu espírito. Não pense que reprovo quem lê livros não cristãos. De maneira nenhuma! Eu gosto e os leio também. Eu mesmo leio livros de todos os gêneros,desde contos policiais até poemas ultra melancólicos. Desde sonetos parnasianos até poesias concretistas. Desde Max Weber até Augusto Cury. O problema está no teu padrão de idéias. Minha mente é regida pelo que leio da Bíblia, Ellen White, Morris Venden, Max Lucado, C.S. Lewis e outros. Os livros não cristãos, eu os uso para exercitar minhas habilidades literárias, não para alimenta em mim o espírito de depressão e introspecção, pois eu já tenho esses sentimentos naturalmente em mim, infelizmente. Eu mesmo, como um fleumático melancólico, sou tendencioso para a depressão, então a pior coisa que posso fazer é demorar minha mente em Goethe, Cruz e Sousa e outros autores.

Você é pessimista. Um dos piores venenos da introspecção é o pessimismo. Por contemplarmos e analisarmos os detalhes das atitudes nossas e dos outros, perdemos a beleza da própria ação. É como analisar as linhas e rugas nas pétalas das rosas. Ao fazer isso, você tira ótimas e corretas observações e conclusões, mas perde completamente a oportunidade de contemplar uma das mais belas flores. O espírito crítico introspectivo é altamente perigoso. Ele é um veneno doce. Se paramos para analisarmos muito a vida, deixamos de viver. Tornamo-nos muitas vezes ranzinzas e altamente pessimistas.

Mas, por fim...

Você é filho de Deus. A despeito de qualquer busca que você fizer nessa vida. Seja por respostas. Seja por satisfação. Deus sempre estará te buscando. Ele não ama mais nem menos os introspectivos. Mesmo que você vire um psicólogo ou um assassino em série, Deus te amará da mesma forma. E algo me tranqüiliza: como foi Deus que criou nossa mente, ele sabe muito bem como ela funciona. Ele sabe o que deve entrar e sair dela. Ele sabe como podemos limpá-la. Ele sabe como podemos controlá-la.

E...

Você é meu amigo. Um dos meus amigos introspectivos como eu. O que te falei é fruto da minha experiência pessoal. Eu já passei por depressão espiritual várias vezes. Eu já tive (e tenho) várias neuroses. Eu sei o que é sentar e pensar muito, intensamente a respeito de algo que você quer entender. Eu sei... porque eu ainda faço isso. Meus livros são prova disso. E sei que, como meu amigo, você absorverá a boa parte dessa definição que fiz e nossa amizade continuará. E por quê? Ora, porque somos amigos e não nos gostamos nem mais nem menos pelo fato de analisarmos um ao outro. Particularmente, eu não me incomodo em que alguém me analise, disseque meu comportamento. Eu gosto disso. Eu gosto que alguém tente entrar em minha mente para me entender. Mas, como já disso, isso é uma liberdade que nem todos podem dar e nem para todo mundo. A mente é um terreno sagrado e misterioso. Devemos explorá-lo com sabedoria a de Deus.

Por fim, quero te dar um conselho baseado na minha longa jornada introspectiva de dezenove anos: use tua introspecção para ajudar as pessoas. Eu procuro fazer isso. Eu posso quase enlouquecer me analisando e me introspectando (nem existe essa palavra), mas eu respiro fundo e oro a Deus para que quando eu encontrar alguém que passe por problemas assim, eu a ajude a encontrar a saída, a solução. Bem, esse é o conselho.

Fique bem.

“Todos nós precisamos estudar o caráter e maneiras a fim de que saibamos lidar cuidadosamente com mentes diversas, e podermos fazer os melhores esforços para ajudá-los a compreender a Palavra de Deus e levar uma verdadeira vida cristã. Devemos ler a Bíblia com eles e desviar sua atenção das coisas temporais para seus interesses eternos.” (Ellen White, Mente, Caráter e Personalidade. p. 36)

Seu amigo Edivandro

Ed Lewis
Enviado por Ed Lewis em 21/09/2009
Código do texto: T1823307
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