Jogando conversa fora
 
Falta meia hora para acabar meu tempo. Vou aproveitar que estou diante desta folha em branco, perdido no meio de selvagens, longe, porém, da minha selva, do meu refúgio. Sentindo falta do teu sorriso, com vontade de ficar em silêncio, de olhar o vento. Imaginando nós dois, falando de um assunto qualquer, apenas pelo prazer de ouvir a voz um do outro, querendo arrancar uma gargalhada. Às vezes, falando sério, pela vontade de dividir uma angustia, de libertar uma emoção presa na garganta.
Ontem, eu fiquei pensando em Laila. Não é a toa que ela tem a sua cara, tem o seu jeito. Quis entrar no seu mundo. Deixar a condição de autor e me abrigar no seu colo, deitar no seu regaço e me entregar ao seu carinho. Cheguei a sentir as suas mãos alisando os meus cabelos. Ela sussurrava ao meu ouvido palavras que me traziam a calma. Na razão da minha lucidez, eu me deixei conduzir naquele delírio. Éramos só eu e ela - criador e criatura. Incesto poético, você pode pensar. Não seja boba de pensar isso de mim. Eu vejo Laila pela janela da poesia, vejo as coisas acontecerem na sua vida, conheço-lhe os passos, os pensamentos, os seus sonhos, mas sigo à margem da sua vida. Ela não me vê e nem me conhece. Ela é inatingível para mim. Ela trancou o seu coração para o amor. Permite apenas flertes por parte daqueles que não resistem ao desejo de cortejá-la.
Laila esconde uma tristeza no seu coração. Se refugia na sua própria alegria de viver. Alegria que ela divide com os outros para multiplicar a sua. Poucos conseguem resistir ao seu encanto.
Laila é minha. Mas eu não posso ser dela. Por que ela nasceu presa a um compromisso que ela se quer se deu conta.

Faltam 4 minutos para acabar meu tempo. Talvez este não seja um jogo aberto. Parece mais um jogo difícil de entender. Mas foi só pra desabafar, pra jogar conversa fora.