MINHA ADORÁVEL AVÓ
 

Sei que preciso exercitar o desprendimento das pessoas, das emoções.
 
Ando particularmente introspectiva. Não sei por qual razão a saudade acampou ao meu redor. Agora, por exemplo, estou sentindo uma falta danada da minha doce avó.
 
Às vezes quando deparo com situações difíceis recorro ao meu arquivo mental para ter a certeza de que já enfrentei momentos mais delicados e consegui superar.
 
A página mais dolorosa da minha vida foi quando perdi essa avó tão especial. Pensei que não sobreviveria. Parecia que eu não iria parar nunca de chorar. Doeu tanto, tanto. Mas enfrentei essa dor sem máscara alguma. Não aceitei nenhum tranqüilizante nem escondi as lágrimas que insistiam em não abandonar meus olhos.
 
Quantas vezes fiquei com a visão turva enquanto examinava os processos e era obrigada a parar para extravasar essa dor.
 
A lembrança, as lições que ela me deixou ficaram para sempre. Às vezes, como hoje, ainda dói quando me lembro da mulher tão singular que me ensinou tanta coisa.
 
Mas é um consolo saber que é possível sobreviver a uma dor esmagadora. Voltei a sorrir. 
 
Preciso sempre me lembrar de que o tempo é o melhor consolo. Lembrar também que ninguém é capaz de viver a nossa dor. É só nossa. Por mais que nos queiram bem não conseguirão senti-la como nós a sentimos. É como se estivéssemos sozinhos no mundo.
 
Entretanto, é encorajador saber que algumas dessas pessoas se preocupam realmente conosco, procuram saber como estamos e nos dão uma palavra de conforto.
 
Sei que a minha avó continua me amando e por isso peço que me embale em seus braços agora e peça à Santa Virgem para me consolar.
 
Assim seja.

Iara Mesquita


Texto escrito em 12 de março de 2007 e enviado, por e-mail, a um coração atento.