Carta aos professores e a quem mais interessar possa.

São Gonçalo (Estado do Rio de Janeiro, Brasil), 26 de outubro de 2009.

Aos prezados leitores...

Meus amigos, nem sei que dizer. Em realidade, tenho vontade de gritar, de sacudir as pessoas e fazê-las enxergar a qualquer custo o que insistem em não ver. Sempre digo e repito ser muito bom crer em Deus. Somente Ele é capaz de nos manter firmes e esperançosos ao mesmo tempo. Somente o céu para nos dar alento nessa jornada inglória.

Pouco antes de ler o texto “Carta dos professores”, publicado no Recanto das Letras (www.recantodasletras.com.br) pelo escritor Campista Cabral, li alguns trabalhos de estudantes prestes a concluir o Ensino Médio. Foi uma lástima. Apenas sete alunos dos vinte e cinco alunos tentou criar um texto próprio onde expressasse opinião sobre o conteúdo pesquisado. Desses sete, três conseguiram se expressar em um texto inédito, porém muitíssimo pequenos. Dos três, um não saiu do senso comum e, pior, chegou a conclusões sem nenhum fundamento, totalmente descabidas mesmo em contextos isolados. Não havia sequer um texto teórico que embasasse a afirmativa do aluno e nem mesmo o próprio senso comum confirmava a escrita. Enfim... Restou apenas um texto bem escrito, coeso e coerente.

Penso como esses rapazes e essas moças, gentis e agradáveis, conseguiram chegar ao Ensino Médio. A maioria deles não consegue entender textos simples. Desconhecem a linguagem literária e também a linguagem técnica. Têm o vocabulário encurtado cada vez mais. Não conseguem discutir sobre assuntos amplamente expostos na mídia (principalmente a televisiva). Falta formação para compreender a informação, diriam várias leitores e eu confirmo (e acrescento que falta também vontade de apreender conteúdos novos e criar novos significados). Penso estarmos vivendo a Era da Grosseria e do Culto a Ignorância. Quanto mais boçal for alguém, mais popular e aclamado será. Quanto mais grosseiro, mais poderoso será considerado. Poderia dizer: É a barbárie! Porém o termo pode soar preconceituoso. Na realidade, não é cabível. Se nos reportarmos à História Universal e analisarmos as características dos povos denominados bárbaros, veremos que eles não eram tão bárbaros assim. Tinham uma cultura diferente da romana. A invasão desses povos periféricos ao Império acabou por modificar e contribuir para a instauração de um novo período histórico e formação posterior dos modernos estados nacionais europeus. Foram períodos de modificações. Não de destruição pura e simples de uma cultura. Ocorreu sim assimilação cultural resultante do encontro (com confrontos e conflitos, não se pode negar) desses povos. Portanto, usar as terminologias bárbaro e barbárie para designar, respectivamente, o diferente e o estado de coisas em que nos encontramos, não é adequado, mas é impactante. Hoje não vivemos mais numa civilização com valores e estética apreciáveis no centro e no poder com excluídos na periferia. Temos uma elite econômica medíocre formada por indivíduos fúteis e ignorantes quanto ao aspecto humanista em franco crescimento, uma política educacional desfavorável aos professores e profissionais de apóio às atividades pedagógicas e uma mídia formadora de opinião que reforça esse estado do coisas com apelos emocionais extremados e com convites a alienação através da valorização e banalização do grotesco.

Deus meu! Em meio do caos, as crianças e adolescentes, mal começando a viver e já sofrendo a pressão do sistema perverso. A ditadura do consumismo desenfreado não poupa ninguém. Mas as riquezas não circulam. Resta então, viver de aparências. Precisa-se parecer gastar, parecer entender, parecer ser forte, bonito... Simular é a tônica. Muitos aderem a essa lógica sem a menor reflexão. Não sei mais o que fazer para viver sem me aborrecer. Tornar-me superficial parece uma saída harmoniosa na administração dos conflitos. Optar pela popularidade seria alternativa de grande apelo. Há outra postura a ser tomada? Há sim. Amargurar-me e reclamar sem fim. Omitir-me? Confesso perpassado pelo desânimo e seduzido pela superficialidade, descartabilidade (se me permitem o termo) e popularidade sem consistência. Não consegui me enquadrar nos perfis superficial, popularesco, amargo ou omisso. Optei pelo alternativo. É uma espécie de heroísmo sem superpoderes, boa-vontade sem abnegação, fé sem ingenuidade, carinho sem mimos e amor sem paixões arrebatadoras. Dificílimo! Todavia necessário. Digo mais: imprescindível!

Resistamos sim. Professores ou não. Se fôssemos água, teríamos de escoar pelos meandros da sociedade, subirmos até ao teto da arrogância e da ignorância através de infiltrações. Devemos insistir como o mar e o rio incansáveis. Pairarmos e envolvermos como a neblina e voarmos como as nuvens. Jamais devemos congelar. Se formos icebergs, sejamos reguladores térmicos do planeta e não armadilhas para navegação.

Um insistente professor e artista brasileiro.

Oswaldo Eurico Rodrigues
Enviado por Oswaldo Eurico Rodrigues em 26/10/2009
Reeditado em 11/06/2010
Código do texto: T1888022
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