Amor do futuro do pretérito
 
Eu vi Laila na TV. Ela fazia parte de um grupo de adolescentes de Moçambique que se reuniu para fazer um trabalho de escola. A tarefa era montar uma peça para orientar os colegas sobre AIDS(SIDA, para eles). No desenrolar da preparação, José tentava, de todas as formas, conquistar Luiza - uma negra linda e graciosa que me fazia lembrar Laila. Foi engraçado ver a meiguice de Laila falando com sotaque português. O modo arredio de Luiza, sempre na defensiva, me trouxeram à lembrança as tentativas frustradas de prender o coração de Laila.
Ultimamente, Laila tem sido fria e lacônica. Eu sigo sem saber até quando ela vai negar a si mesma o amor que sente por mim. Amor que as letras já não conseguem esconder.
Laila está na minha vida desde que a conheci. Ela jamais saiu do meu pensamento. Sempre quis o amor de Laila. E ela, mesmo se deixando amar, sempre se mostrou indiferente. Um jeito estranho de amar. No entanto, o amor sempre ocupa espaço. Assim, outro amor entrou na minha vida. E por muito tempo me fez não lembrar do amor de Laila.
Mas esse amor não contava com a minha fragilidade, com a minha necessidade de crescer, não esperava ter que perdoar. As agruras desse amor me levaram a refugiar-me na tola fantasia de reencontrar Laila. Um reencontro que acabou acontecendo. Não por acaso. Inconscientemente, eu fiz com que isso acontecesse. Só não pensei como estariam as nossas vidas hoje. Diferentes, nossos caminhos opostos, sem espaço para nós dois. Sem espaço para o nosso amor. O mais próximo deste sentimento seria uma grande e bela amizade.
Não pensei que nesse hiato de nossas vidas, escrevemos outras histórias, outros personagens surgiram. Ainda que tivessem preenchido o vazio que amor deixou em ambos os lados, são vidas que fazem parte da nossa história e não podem ser descartadas.
Ultimamente tem sido muito dificil conversar com Laila.
Está me fazendo falta olhar nos seus olhos. Pois no momento, eu quero apenas ficar em silêncio. Preciso ficar quieto com a minha tristeza. Mas tenho que sustentar meu sorriso, para não tirar daquele rosto a alegria. Ela quer me contar das coisas que andou fazendo. Está ansiosa para dividir comigo os seus pensamentos, suas opiniões. Mas acima de tudo, ela quer me ouvir o que eu acho e, principalmente, saber como eu estou. Não quero falar de mim mesmo, porque nem mesmo eu estou me suportando.
Sinto-me dependente das nossas conversas. Ela já sabe dos meus sentimentos, porque nunca os escondi dela. E nas entrelinhas de suas palavras, ela tem deixado escapar os seus sentimentos, sua aflição em guardar segredos que podem mexer com a nossa vida. Minhas revelações são igualmente bombásticas, mas podem ser descabidas agora. O que será que Laila tem a me dizer? O que será de tão grave que lhe sufoca o seu peito, e não a deixa dormir? Por que ela me trata de um jeito que me deixa confuso? Eu fico sem saber quando ela está falando sério ou quando está brincando comigo.
Eu tenho que seguir sem saber. Porque Laila não pode ser minha. O amor de Laila e eu é um amor que poderia ter acontecido. Se nós não tivéssimos sido envolvidos nas tramas dos que nos afastaram. Pessoas pequenas conseguiram impedir a felicidade de duas pessoas. Tiraram a liberdade de um grande amor.
Assisti ao documentário com a máxima atenção. Sempre atento às aparições de Luiza. Ela era a minha Laila, quando era adolescente. A minha doce e meiga Laila que escapou entre os meus dedos, porém, jamais deixou o meu coração.