MELHORES DIAS HÃO DE APARECER...

É muito difícil para alguém que esteja fora de um relacionamento entre um casal, possa dimensionar as particularidades e os entraves que a vida em comum reserva numa vida a dois. Já dizia o velho adágio popular - sempre sábio: "Em briga de marido e mulher ninguém deve meter a colher". Por isso, sempre que alguém se vê em atrito familiar, através de comportamentos e condutas que visam alcançar uma solução, todos que não compartilham de tais problemas devem ficar fora da discussão evitando opiniões que interfiram na decisão comum entre o casal, pois qualquer visão estrábica sobre as particularidades do problema, pode influir de forma negativa no conflito.

É bem verdade que quando temos em nosso seio familiar a presença constante de um casal, o convívio e as aspirações familiares, acabam fazendo nas pessoas desse círculo uma idéia de coesão, ou melhor, não se percebe a individualidade de cada um daqueles seres, pois, apesar de terem laços de uma união estável (casamento) - são pessoas únicas e com gostos e atitudes diferentes. Isso implica dizer que só esse equívoco de interpretação já causa em terceiros a necessidade de se afastarem do conflito, já que o hábito não é bom conselheiro, pois está diretamente ligado a uma situação de comodidade, considerando que os anos de convívio deixa as pessoas atreladas na figura a dois, passando a achar que casal é indivisível e inseparável, o que não é verdade, pois a buscas do ser humano é a felicidade. Essa essência humana pode se romper quando um casamento não vai bem.

Sou partidário da idéia de que devemos respeitar a individualidade das pessoas e não fazer julgamento apressado e sem base, quando há um conflito familiar. O zelo e a cautela nos ensina que não devemos tirar conclusões e nem escolher um lado, quando gostamos das pessoas que estão em conflito. O tempo é a melhor arma para se tratar de assuntos tão delicados. Ficar observando os acontecimentos e atendendo aos pedidos de quem lhe chama é a forma - a meu ver - de acompanhar o problema, sem interferir. Só dar opinião de se for solicitado. Só dar conselho se for necessário. Nunca julgar, nunca criticar, nunca interferir, nunca influir, nunca radicalizar e manter-se solidário enquanto for possível ser.

Quando um casal amigo está em conflito e ficamos numa encruzilhada, sem saber a quem apoiar, o melhor que temos de fazer e ficar neutros, isolados, apenas rezando para que uma luz possa iluminar a ambos, ficando disponível para apoiar a qualquer um dos dois que porventura denote a necessidade de apoio. Não sei se é a melhor solução, até porque algumas pessoas são diferentes das outras e alguns deles pode pensar que você é indiferente e não está nem aí com o seu problema. Entretanto, ficar insistindo, fazendo-se oferecido e tentando demonstrar solidariedade sem as tê-las, seria uma forma hipócrita de demonstrar apreço, já que mais cedo ou mais tarde a pessoa irá perceber que você não é autêntico. A sinceridade é um atributo necessário num círculo familiar, sob pena das relações serem artificiais e sem a essência do sentimento.

Confesso que estou fazendo esta crônica visando demonstrar minha solidariedade a um casal de amigos que está rompendo sua comunhão de muitos anos. Não sou daqueles que se aproxima e procura ficar junto, até porque não se trata de uma convivência que foi construída dessa forma, pois cada um de nós - em nosso circulo de amizade e convívio familiar - goza de valores sociais diferentes. Isso não impede, porém, que tenhamos muito apreço por essa relação de amizade e de proximidade fraternal, pois sempre que nos encontramos procuramos fazer desses momentos, algumas horas de conversas animadas e de empolgação ante a união que nos aproxima como pessoas que se gostam.

Dei um determinado tempo para me manifestar, porque entendo que no momento da ruptura e quando as coisas estão acontecendo as pessoas estão fragilizadas, e, em certos casos, estão mais sensíveis e essa baixa auto-estima pode estimular uma interpretação equivocada, até por almejarem que alguém próximo esteja somente a seu lado e não que divida sua consideração em partes iguais, como é o meu caso, pois admiro o casal, mas antes de tudo primo pela indidualidade de cada um deles, principalmente as suas ousadias para enfrentar as dificuldades que todos esses anos de casados lhes trouxe como prova da luta por dias melhores.

Hoje, todos nós, filhos, amigos, parentes, familiares, temos de nos curvar à solução comum do casal. Quiseram eles, de livre e espontânea vontade - como também estiveram um dia num altar - optar pela separação. Só a eles deve ser creditada tal decisão. Certamente foram horas de conversas e de tentativas de achar uma saída menos severa e menos radical. Infelizmente, isso não foi possível, pois a vida muitas vezes nos reserva momentos de tristezas. Consolo-me com a doutrina espírita que diz que tais sofrimentos servem para nos amadurecer e nos fazer crescer como pessoas e como ser humano. Tenho absoluta certeza que esses instantes de desconforto no coração irão ser coroados no futuro com a felicidade pessoal de cada um; seja de uma forma ou de outra, mas dentro do entendimento que ambos tenham sobre seus destinos.

Uma coisa eu tenho certeza: Ambos são vitoriosos. Lutaram juntos até agora e poderão lutar separados, mas ainda de mãos dadas, a final construíram juntos um império de amizades, de bens materiais, de educação para os filhos, de exemplo como pessoas de boa índole para a nossa sociedade, de empreendedorismo,de valorização do ser humano, de dedicação a uma causa. Enfim, são pessoas vividas e calejadas com as lutas diárias, por isso, cada um poderá alçar seu próprio vôo com base na experiência e nas facilidades de comunicação; atributos comum de ambos.

Na minha vã filosofia, só posso desejar que sejam felizes no novo caminho. Não posso penetrar no íntimo de cada um e sentir a dor dessa ferida. Mas, com certeza, posso servir de remédio para os dois no sentido de que sou solidário com a decisão que tomaram e fico à disposição sempre que for solicitado.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 26/11/2009
Reeditado em 27/11/2009
Código do texto: T1945115