SÓ AGORA ENTENDO

 
Só agora entendo o teu “abandono”; a decisão de me “deixares” caminhando sozinha. As escolhas feitas em nome de nós dois, embora, eu me sentisse excluída, semelhante à rosa murcha em meio às pétalas viçosas de juventude e da perspectiva de novas descobertas.
 
Entendo o sentimento de inadequação apoderando-se da minha alma, me tornando insegura ao ponto de me comparar à cada pessoa que cruzasse teu caminho. Entendo o quanto a mim maltratei, a infantilidade das ações movidas pelo ciúme, ditadas no pavor da rejeição. Entendo o “Inferno de Dante” no qual transformei a nossa união e admito ser o amor fundamental; porém, não a única base sólida nos relacionamentos. Fundamental... e insuficiente!
 
O meu amar é tão intenso e verdadeiro; contudo, imaturo para acompanhar-te nos revezes da existência, no cotidiano nem sempre colorido, mesclado por dissabores e incertezas; onde é imperativo a compreensão, a capacidade de relevar, a manutenção da individualidade – não o individualismo -, a cumplicidade e o propósito de seguir. É necessário amar com a confiança duma criança sem olvidar a ponderação de adulto.
 
Só agora entendo o teu “abandono”. Precisava crescer, amadurecer, realizar o “parto” da consciência de ser e do meu papel perante a vida e o mundo.
 
Parto natural, doloroso e que tornou imprescindível fórceps perante a teimosia na qual me protegia.
 
“Crescer dói”! Portanto, recusei tal labor durante longo tempo. Colhi as conseqüências através das perdas emocionais, afetivas, dos vazios profundos, da incapacidade de andar com os “próprios pés” e decidir. Vaguei perdida e nesse estado de total perdição fui injusta, cega, egoísta e tola!
 
Hoje entendo... entender não significa tornar mais fácil e, sim, estar disposto a encarar o desafio das mudanças. Aos pequenos passos que consigo dar comemoro e me fortaleço. Sinto-me diferente e quase serena. Sem mentiras demonstro o quanto fazes falta. Todavia, posso acreditar que pensavas no meu melhor. Eu acredito! E o conforto vem e acalma a saudade! E ainda que dessa forma não seja, nem assim invalida o propósito!
 
E então, só agora consigo te agradecer: por haveres confiado no potencial que desconhecia possuir e tu enxergavas. Pela sensibilidade ao perceber ser indispensável estar perdida a fim de me encontrar. Por não se permitir tornar-se “muletas” para as paranóias, frustrações e ausência de auto-estima a me assolarem. Por não duvidar de que eu fosse capaz!
 
As coisas nem sempre são o que aparentam: a liberdade e plácida paz por vezes se travestem de abandono.
 
Estou crescendo, menininho... e queria te contar!