Santo Tirso, 25 de Agosto de 1925
 
Querida Cylmar

Eu nem sei como principiar esta carta! Custa-me tanto, tanto dizer-te rudemente toda a verdade………………….
Oh! Cylmar, eu sou muito mau, mas devo ser perdoado pelo muito que te amo.
Se soubesses quanto sofri por te ter tratado tão bruscamente nesses dias que aí passei!...
Se soubesses quanto tenho sofrido nestes últimos tempos!
Não, Cylmar, tu não leves à conta de esquecimento ou simples desleixo o meu longo silêncio. Se não te escrevi……………  Mas não, eu agora já não tenho coragem para te confessar tudo…. Se te amo tanto!
Num momento de febre, numa hora de crise… talvez… Agora……….não. Cylmar, eu não posso cumprir o que um dia te prometi; eu não posso, nesta hora de remorso, juntar à minha dor outra dor maior.
Tu compreendes-me, não é verdade, Cylmar?
Olha, eu cheguei quase a tomar uma resolução – cheguei a escrever-te uma longa carta em que te narrava a série de asneiras em que nestes últimos tempos me tenho perdido. Depois….
Oh! minha Cylmar, doía-me tanto perder-te! E eu ia perder o teu amor…..
Não, não podia ser! – eu cada vez sinto mais o desejo de me aproximar de ti.
……………………………
Cylmar: se queremos amar sempre e tudo perdoar, e perdoar é esquecer, eu quero que tu perdoando esqueças, para sempre, as maldades, os erros da minha vida passada.
Hoje, dia dos meus anos, - já 23! – eu juro, pelo nosso amor, que abandonarei o mau caminho que, até aqui, infelizmente tenho trilhado, para entrar alegremente no caminho do bem.
E assim, minha Cylmar, eu tenho a certeza que, dentro em breve, se realizará o nosso sonho de amor.
Mas não te esqueças também que para isso é preciso que tu ajudes com todo o teu carinho e com todo o amor.
O teu, eternamente teu:
                   Antonio
 
N.
Algumas horas depois de fechada esta carta, recebo o teu telegrama de carinhosas felicitações. Abro-a novamente para te dizer que muito reconhecido te beijo as mãos com muito amor.
teu:
Antonio
 
28
Querida Cylmar:
Novamente abro esta carta para lhe juntar estas palavras de explicação:
Dois dias andei com a carta no bolso sem sentir coragem de a mandar.
Sabes, Cylmar, custava-me muito que tu soubesses…
Por outro lado não sabia como explicar tão prolongado silêncio….
Conversando ontem com o Mauro Linhares disse-lhe toda a verdade. Disse-me, pediu-me até, que te não dissesse a verdade: - «as mulheres nunca devem saber segredos que só aos homens pertencem»
Mas, não – estou resolvido: eu entendo que devo ser sempre franco para ti.
Faço bem? Faço mal? …………………
Se me amas – perdoas; se não me amas………………………….
Continuarei a amar-te eternamente
o teu
Antonio

ANTONIO JORGE
Enviado por ANTONIO JORGE em 01/02/2010
Reeditado em 01/02/2010
Código do texto: T2062765
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