Carta-Testamento

Saudações à todos vós quanto comparecem à este meu funeral.

Não sei se posso dizer que é com alegria que vos recebo, tendo aqui mesmo a minha testa franzida, deitado imóvel nessa caixa que a partir de agora, mas não por muito tempo, há de ser a casa deste meu corpo. Sinto-me, ou sentiria-me honrado, caso pudesse sentir alguma coisa neste instante, pela presença de cada um de vós.

Sim, entendo as lágrimas que possam estar correndo dos olhos das pessoas que por mim foram amadas e que me amaram, mesmo sem eu merecer; lamento apenas por fazê-los chorar.

Parto desta vida na certeza de que a vivi de forma intensa. Que cada segundo que me foi dado, pelo Divino, foi experimentado com sabor de novidade e com a obrigação de fazer dele o melhor.

Sempre fui precoce: nasci jovem, trabalhei jovem, casei jovem, fui pai jovem...o que me restaria a não ser morrer jovem?rs...Deus é quem sabe o tempo de cada um de nós. Mas talvez alguns comentem que se escrevi esta carta é porque já sabia que ia morrer. Ora, quanta hipocrisia...e quem não sabe? Esta é a nossa mais firme certeza. É certo que tinha esperança de partir por meio do arrebatamento, mas de qualquer forma, achei por bem deixar algo por escrito.

Não levo nada nos bolsos, se colocaram foi sem eu ver, e só não peço pra tirarem agora para não causar tumulto.(risos) Mas no coração, aquele que não é este que parou de funcionar, levo cada um de vós. Desejaria poder abraçá-los agora, dizer uma última vez o quanto vos amo...mas há o Espirito Santo, e é Ele quem consola. Só Ele sabe como fazer.

Não consigo ver daqui quantas pessoas se encontrarm presente. Nem mesmo tenho como saber quantos vieram somente para ter a certeza de que fui enterrado e não retornarei...ora, é claro que sei que todos temos inimigos, mesmo que não saibamos. No entanto, tenho a esperança de que a macissa maioria dos presentes vieram prantear com dor a minha despedida.

Não turbeis os vossos corações, este caminho que sigo já fora trilhado e ainda será por muitos. Como dizem: basta estar vivo para que se possa morrer. E ainda, como diz a música: "a gente não nasce; começa a morrer".

Cometi erros dos quais nenhum Ser Humano está imune; oscilei muitas vezes entre a emoção e a razão, mas jamais perdi a fé. Quando criança, cortei a lingua; quando adulto, tive que fazer a barba - pouca, confesso, mas tinha - quando morto, tive que ser intupido de algodão. Assim é a vida...assim também é a morte.

Meus arrependimentos os confessei ao Senhor; minhas frustrações entreguei à Ele. Não queria ter sido rico na vida, uma vez que escolhi sê-lo após a morte, agora que viverei eternamente na Mansão Celestial; entretanto sonhei por diversas vezes em ter uma melhor condição para que pudesse ajudar os meus. Tudo bem...Deus é Pai.

Fui um homem privilegiado na vida, e a morte só me traz lucro. O pó volta à Terra e o espírito volta à Deus. Minh'alma descansa, no aguardo do reecontro. Quero vê-los todos nas Bodas do Cordeiro.

Cada um de vós sinta-se abraçado e beijado.

Aos amigos eu peço: cuidem dos meus.

Até o grande dia...

Marcos Sodré
Enviado por Marcos Sodré em 18/02/2010
Reeditado em 19/02/2010
Código do texto: T2093960
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