Natal, 13 de Agosto de 2006.

Deus (Quem):

Quando eu tinha por volta de dez/doze anos, eu te escrevia sempre.
Naquela época eu freqüentava, assiduamente, a Escola Dominical da Igreja Batista de minha terra-natal. 

Talvez por isso – e por causa das “pressões” de meus pais – eu sentia mais necessidade, compulsiva até, de conversar mais amiúde contigo, Senhor.
Quiçá, também, porque eu conseguia te enxergar... 

Eu te via naturalmente, como via ao meu pai genético. Sim. Eu te via, porque “ensinaram-me” que tu eras um ser belo, alto, forte, radiante, cujas vestes chegavam a ofuscar-me os olhos; e essas características me cativavam e me davam prazer. 

Contudo, meu Deus, havia uma “coisa” em ti que me incomodava deveras: Eu tinha medo de ti. E quanto medo! 

Temia até a tua eventual aproximação material (Já não bastavam as reprimendas, a censura e até, não raro, o rancor do meu genitor?). 

Por isso, talvez, paulatinamente, fui-me afastando de ti. Começaram a surgir outras atenções; outros atrativos mais “significativos” e palpáveis... Daí foi “um pulo!”.

Deus (Que):

Passaram-se mais de quarenta anos! 

Então, decidi escrever-te novamente. 

Só há pouco compreendi que tu és a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. 

Percebi, também, que “para crer-se em Deus, basta que se lance o olhar sobre as obras da Criação. O Universo existe, logo tem uma causa. Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e admitir que o nada pôde fazer alguma coisa." E o nada não existe. 

Entendi, ainda, que tu és um Deus “diferente” daquele que eu “fantasiava”. Diferente do que muita gente apregoa. 

Embora sendo imaterial e, como tal, não ocupas espaço, assemelha-te ao vento de travessia que acalanta nossas dores e suaviza nossas tristezas e desencantos.
 
Vejo-te com os olhos que vêem o balançar cadenciado das árvores; Ouço-te, com a audição que escuta o ronco do mar; Sinto-te, através do pousar de uma borboleta sobre os meus ombros. Mas ainda persistem algumas inquietações, e perdoa-me, Senhor, a sinceridade: 

“Dizem” que só devemos agradecer... Que só devo enxergar as coisas salutares: a saúde; o teto; o trabalho...Que devo agradecer, ainda, por tudo que nos é pernicioso: a doença; os acidentes de percurso; as dificuldades econômico-financeiras, e por aí vai... 

Mas, Meu Pai: eu sou uma criança diante de ti; diante dos teus propósitos...
Uma criança precisa...precisa...e só precisa. De carinho, afeição; de socorro. De amor, meu Deus! De amor e, acima de tudo, de amar... 

Não te aborreças comigo, portanto. Afinal, o que tenho “exigido” de ti? 

Dá-me a fortaleza de espírito; coloca lenha na pouca chama da minha fé e ensina-me a amar, eu te suplico! 

De todo o coração, 

O teu filho:

Robério