CARTA PARA O DOUTOR AUGUSTO SAMPAIO ANGELIM _ (A PROPÓSITO DO CASO NARDONI)

Li o texto da carta que Augusto Sampaio Angelim escreveu e endereçou a Alexandre Nardoni. Estou sem nem saber como e o que direi nesta minha missiva ao brilhante advogado e escritor, nosso colega de Recanto das Letras. São tantos os sentimentos e emoções que se me assomam e me abatem!

Essa carta do advogado é a segunda que faz, a primeira não consigo ler. O caso Isabella está no máximo da especulação e da revolta pública. Muitas são as opiniões e as teses sobre o drama da menina e dos seus parentes. Cito como exemplo a afirmação de pessoas sobre a extrema exposição dos fatos na Imprensa. Esta é também acusada de aproveitar-se em função do sensacionalismo jornalístico. Vai bem longe o tempo do jornalismo não atrelado às rédeas do sistema capitalista. Nessa época jornalistas queriam demonstrar o jornalismo verdadeiro, isento e imparcial.

Outros falam de casos iguais ou até piores do que este de Isabella, mas que não são motivo das atenções da mídia. Por certo isto é desviar o foco de algo terrível: um pai mata a filha, independente de ser um pobre ou um rico, um de sobrenome tímido ou outro de sobrenome pomposo. Pouco importa. Sabe-se que a sociedade vive de simbologias e que temos a tendência de sofrer mais pela morte de uma princesa do que pela morte de uma doméstica. Há tentativas de explicação para esse tipo de comportamento. Explicado ou não, também em nada justifica o delito.

A Imprensa, ou a Mídia, como queiram, trabalha sob os conceitos da modernidade e um deles é veicular aquilo que venda o produto. Sem o dinheiro não se poderá manter uma rede de TV, uma emissora de rádio, ou seja lá o que for (até a Igreja sabe disto e faz o mesmo).

O conjunto de informações sobre endereços nobres, sobrenomes sonoros, alguma beleza física e outros detalhes faz a diferença para os jornalistas e para o povo. Então, o caso passa a ter uma representatividade incalculável. Sim, fosse uma menina feia, pobre, suja, esse mesmo povo que sai de casa para clamar por justiça, não se abalaria um milímetro. Isto também não justifica o ato criminoso.

Por outro lado, o espetáculo dado pela Justiça tem seu charme e encanto, é inegável. Inapelável, usando um termo mais parecido com a situação. O drama da Justiça é um bela peça teatral e tem sua serventia. Esse mesmo povo que acompanha a movimentação dos advogados e de todo aquele ambiente do julgamento aprende. Os estudantes de Direito aprendem. A Justiça aprende. No mundo todo é assim, é só ler os manuais do Direito para ver os rumorosos casos que abalaram países de todos os continentes. Nem serei eu a exemplificar, aí temos milhares de advogados para tanto. Aqui fala uma mulher, mãe, avó e professora.

A contextualização que teço serve de introdução ao que preciso dizer ao advogado Augusto. Fiquei impressionada com a sua serenidade de homem, de pai e de profissional da área do Direito. Ainda estou sentindo as emoções à flor da pele por ler uma carta de um advogado endereçada a um condenado por quem ainda demonstra comiseração.

A carta de Augusto, na verdade, não é a carta de um agente da lei. É a de um ser humano quase transcendental, de um pai que ainda esperou o milagre no qual seria revelado que Alexandre não matou a própria filha. Sim, seria um milagre. Depois, no texto da missiva, aflora o advogado que se vê diante da REVELAÇÃO da ciência que pratica: CONDENADO PELA JUSTIÇA, PELAS PROVAS, PELO CORPO DE JURADOS, PELA SOCIEDADE, POR DEUS, UM SER CUJA PENA MAIOR É O SEU ABSURDO ATO.

Não quero falar da madrasta. Pelo menos agora. Deixo o foco da minha atenção sobre o rosto desse homem que um dia jurou amor à mãe de Isabella e a condenou da forma mais cruel.

Agora continuam falando e falando pelas ruas sobre a Justiça e de que esta trabalhará para reduzir a pena do casal. Vale lembrar que a Justiça é a Lei criada por cada um de nós e se comporta dentro desse contexto. De qualquer maneira, ainda creio firmemente que a Justiça Divina tem guiado a mão da Justiça humana. O Mal e o Bem existem e disto não nos podemos livrar. Parabéns, Justiça, mal ou bem, a senhora fez valer sua autoridade.

Deixo nesta carta a minha admiração pelo homem e pai, pelo escritor e pelo advogado que nos honra com sua presença no Recanto das Letras.

Tânia Maria da Conceição Meneses Silva.