Revogando um amor


Meu amor,


A começar estas letras que espancam o meu sentimento, fazem sombras em cada estação do meu destino. E se um dia eu poder lhe rever e aceitar as minhas razões, será muito bom. Sinceramente, a dor que parte nos meus olhos, invadem como veneno o doce e carinhoso romance de longas eras, e atravessa em todos os instantes os caminhos dos meus sonhos.

Eu não posso aceitar o teu adeus como resposta de amar sozinho o fruto que restou dentro do meu coração. Não... Não posso ter outra informação psicológica de mudanças drásticas capazes de modificar o meu comportamento. Se eu já reafirmei que amo você, não resta dúvidas quanto essa garantia. Logo, não posso carregar equívocos com o nome esboçado na desonra dos meus próprios conhecimentos. Sei que um dia, essa mágoa poderá derramar no solo seco, abrindo com cada gotícula que cai o orifício desse ardor que venera dentro de mim. E saiba que um dia serviu de cobertor por longas horas sem o sol. Quem sabe! As minhas lágrimas que escorrem em minha face possam mergulhar neste terreno em que você pisa e  possa transformar no maior e mais profundo rio, soluçando nas ribeiras com rosas vermelhas a lhe envolver.

Não. Eu não peço e nem suplico que voltes para mim. Eu quero apenas deixar clarividente que não haja mais condenação sobre a minha pessoa. E que o amor envolvido no travesseiro não seja a bandeira de ódio que levas com propósito de não mais me ouvir. Confesso-te, eu não tenho mais um lar, e nem um ninho. Eu não tenho mais a candonga e nem mesmo as ilusões para sonhar. E assim, é o peso da agonia em que me sacrifico em lhe dizer que um dia você foi feliz comigo. Não entendo como o amor faz inovações e gravame em nossas vidas, com sentenças terminativas e condenatórias de um amor perdido. Sem poder me defender ou até mesmo articular contra os anversos sobrevindo das estórias que lhe contaram. Você não pode realizar um julgamento sombrio e duvidoso para exterminar com todos os belos momentos.

Eu fui infeliz neste trajeto, onde não pude debruçar a minha cabeça para meditar ou esperar uma sentença onde houvesse a minha árdua defesa, a minha luta e o meu suor derramado em prol das provas. Também aprendi nas arenas da sobrevivência que o orgulho é a maior espada da ambição, que corta sem dó e sem julgamento justo um inocente. Por todos os motivos, e por todas as causas, aqui vai o meu silêncio escrito em palavras que cortam o meu coração, desafiando as brisas no rebate inconstante desta aflição. Vou caminhar sobre as águas, deixando nos rasgos a tristeza que me queimou e me fez refém. E vou lutar com fervor para ser sempre um sol a brilhar nos horizontes, e se tiveres uma boa visão, verás que sou inocente neste tablado que você me castigou.

Se não leres esta carta, não haverá problema. O tempo se encarregará de abrir em folhas soltas todas as letras que formam esta missiva, mostrando na consciência que somos humanos e erramos. Adeus.



ERASMO SHALLKYTTON
Enviado por ERASMO SHALLKYTTON em 12/04/2010
Reeditado em 04/10/2011
Código do texto: T2193201
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