Que falta me fazem as palavras

BsB, 19/04/10

Meu amigo das horas doídas e prolongadas, como vai? O tempo parece ter asas fortes como as da águia que voa a uma velocidade estonteante quando vai em direção à sua presa. Muitas vezes me parece impossível tal façanha, pelo menos para os meus incrédulos olhos. Tenho corrido em círculo, feito uma barata gigante, daquelas alimentadas com soja transgênica. Às vezes penso que vão pisar em mim, que vou explodir, que chegou o meu dia de inseto. Como pode ver, estou meio moribundo. Mas não é nada que não possa resolver com algumas palavras – poucas, diria. O problema é que elas me assustam, me deixam mudo quando mais delas necessito.

Olhar nos olhos do outro, para mim, não é uma tarefa das mais fáceis, muito menos corriqueira, ainda mais quando acho que os fatos ficaram fora do meu controle. Aí, o problema que era minúsculo fica, por ora, maiúsculo. Por mais que eu tente acalmar-me não adianta, as palavras me engolem, sinto que sou um sapo fora d’água, um peixe-boi! Mas eu tento, tento com todas as minhas forças encarar a situação, tento mirar meus olhos nos olhos dela, faço gestos... às vezes choro. Minhas lágrimas invisíveis me tornam ainda mais empacado. A dor, a fina dor, parece que vem da alma, arrastando tudo que vê pela frente. Minha base estremece. Um furacão passa por mim feito maluco: não perdoa, não dá trégua – me balança. E passa deixando um rastro de destruição. Fico na ponta dos pés, como uma criança que pede colo. Minha amada insiste, parece querer me empurrar para frente e, eu, entendo como se fosse para trás. Às vezes ela grita para que eu escute. Meus ouvidos parecem não tomar conhecimento da gravidade dos fatos - meus tímpanos se fecham. Nesse entrevero meu corpo enrijece, vira pedra - medra.

Meu amigo você que é conhecedor dos meus segredos, que sabe da minha rudeza, que não me deixa nas horas ímpares, diga-me o que devo fazer. Que coisa maluca! Olho-me no espelho, não me vejo. Olho-me por dentro, vejo-me de fora. As palavras continuam fugindo... será que são mesmo as palavras que fogem de mim? Ou sou eu que fujo delas? Se você souber e puder, me conte, antes que o dia amanheça.

Abraços,

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 20/04/2010
Reeditado em 04/12/2022
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