tu, solidão (3)

Oferecemo-nos tudo o que tínhamos. Demasiado depressa, ofeceremo-nos tudo o que tínhamos. Sempre e só para ti, nesse Verão, nasci e ofereci-te tudo o que tinha. Sempre tudo para ti, nascer todos os dias e oferecer-te o resto da minha vida. Só isso importava. Odiámos, amámos, tivemos medo. E isso é a vida toda que se pode ter. É a vida toda que se pode querer. Mas o Verão estava para acabar e as noites eram-nos cada vez mais curtas. O sol estava cada vez mais branco e já quase não havia o nevoeiro a crescer no pinhal e a embrulhar-nos naquele manto lento de muitos cheiros e muitas cores. Voltaram a crescer sombras pesadas sobre a nossa voz. Estive lá o mês passado. Ainda lá estão todas as sombras.

Luís Abreu
Enviado por Luís Abreu em 23/08/2006
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