Conversando com a Sônia

Querida Sônia, hoje veio aqui em casa, acompanhada de seu neto Gabriel, e se emocionou muito, a ex-proprietária de nosso piano Fritz Dobbert. Desde que nos vendeu esse instrumento nunca mais teve a oportunidade de tocar suas músicas e isso já faz uns vinte e seis anos. Sua história me comoveu. Confidenciou-me que vendeu o piano para arrumar o telhado da casa que estava prestes a cair.

Abraçada à mãe juntas choraram quando o piano foi-se afastando carregado por homens fortes e atado àquelas grossas correias.

Sônia, foi uma linda cena a postura de Lila perante o piano. Ela é pequenininha. Queria abraçá-lo e afagá-lo como se ele fosse uma pessoa que não via há muito tempo. Ela ia passando as mãos na tampa do teclado para disfarçar a comoção e contava-me a história da tomada de decisão de dele se desfazer. Tentava segurar as lágrimas e eu também me esforçava para não chorar. Cada um com sua história, com suas dores, com suas saudades e lembranças. Demonstrou alegria em vê-lo bem cuidado e afinado.

Sua mãe morreu faz um bom tempo e era pianista também. Conheço a Lila faz 60 anos. Estudávamos na mesma escola. Sua irmã mais velha foi minha primeira professora.

Tentei acalmá-la relembrando uma viagem que fizemos ao Rio de Janeiro, falando sobre os pontos turísticos que visitamos. Lembramo-nos do circo que pegou fogo em Niterói e que tínhamos programado ir naquela sessão. Só não fomos porque uma parenta dela resolveu nos levar para conhecer a Ilha do Governador. Na volta do passeio ouvimos a terrível notícia pelo rádio.

Lila tocou um pouco e ficou feliz e eu também por lhe proporcionar este prazer.

Combinamos outras vindas dela para usufruir do piano que tem as teclas impregnadas da energia que dela se desprendeu enquanto tocava...

Abraços.

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Lù, que história bonita. Você deveria escrever uma crônica e postá-la no Recanto. O Piano tem muito a nos contar....

Sônia