Tua partida...

Tirar você da minha vida doeu.. como doeu... mas você pediu.. você insistiu.. na verdade, não te tirei daqui.. você que foi saindo.. devagar... passos lentos... aos poucos foi me esquecendo.. e hoje assim estamos, mais longe do que nunca estivemos e mais perto do que jamais estaremos... porque em sua distância cresce uma vida dentro de mim que eternamente lhe chamará de pai... pena que nem sempre ouvirá tua resposta... não terá teu colo após o pesadelo... não terá teus braços nos primeiros meses.. não terá teu sorriso nos primeiros passos... não terá tua mão no aprender a andar de bicicleta... quem sabe falará papai em sua primeira palavra... papai, que será mais que uma palavra, será uma prece, implorando uma presença que quis fazer-se ausência, que permitiu se tornar apenas palavra primeira, mas, não temas a dor desse momento, por que teu ouvido não estará lá, você não ouvirá a prece do pequeno ser que por ti clamará...

Ouço-a por ti... faço-me papai neste momento, preencho com amor a palavra vazia que se refere ao ser ausente... faço-me papai como farei-me sempre... por que se tua presença faltará a minha se fará até demasiada na busca de compensar os passos que ela não verá em sua estrada... na ânsia de tentar mostrar que os passos que não vê é do amor que a carrega nos braços... amor de pai.

Fico imaginando o que responder quando mais palavras surgirem, e o papai da palavra primeira se tornar pergunta... o que dizer quando a ausência for indagada e a falta de presença sentida... o que dizer a uma princesinha... como dizer a uma princesinha que o papai ei-de ser apenas amor sentido no peito... quem sabe seja então o momento de estender-lhe uma fotografia, onde ela veja estampado os braços ali tão frios, que tinham o dever de lhe dar calor... ou quem sabe faça um telefonema, para que a pequena ouça ao longe a voz que tinha a obrigação de falar-lhe ao ouvido e imagine os olhos que tinham nas mãos a bênção de poder vê-la crescer mas que não quis... por um medo talvez palpável, por um medo até compreensível, mas um medo que jamais imaginou o quanto perdia....

Sabe, sempre lhe chamei de anjo... quem sabe prevendo que anjos tem asas e acabam por voar... outros ninhos, outras vidas, tantas buscas... dolorosos desencontros... quando te encontrarás?

Não te culpo, não te julgo, apenas derramo lágrimas por tua decisão, pois chorar esse nós despedaçado é tudo que me resta, afinal, ao olhar pra trás ainda vejo as pegadas de seus passos se afastando de minha vida... uma ida tão recente e por tanto tão dolorida... mas eis que tenho essa criança aqui.. parte de ti, parte de nós, parte de um amor tão lindo que talvez eu tenha amado sozinha... mas valeu... pois recebi de Deus o maior presente de minha vida... minha eterna sabedoria...

Sei que nada de bom a ausência de um ser tão querido poderia trazer à maioria dos seres, mas minha alma poeta sempre trás com a dor a poesia... ela é o bálsamo dos meus desamores, meu porto seguro pra retornar quando nada dá certo, quando outra vez mais os sonhos se esvaem pelos meus dedos, lentamente, mas agora e eternamente será diferente, o verdadeiro amor cresce em mim, toma forma, está a caminho, e devo isso também a você, assim... tirar você da minha vida doeu, dói ainda, mas contemplarei à distância teu vôo, por fim, não te perdi, por que nunca te tive, você foi um vento passageiro, cuja semente, que trouxe de longe, é hoje a razão do meu existir...

PS: Estou começando a achar que amores correspondidos não são pra mim... mas pra mim são os amores, lindos, fortes e eternos, e é deles que se faz a poesia em mim... então... que Deus (n)os abençoe!

Deise Caroline Nunes
Enviado por Deise Caroline Nunes em 27/05/2010
Reeditado em 27/05/2010
Código do texto: T2284039
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.