Meu senhor, Anjo perturbador.

            Perdoe-me por mais uma vez lhe escrever, mas é preciso soprar feito vento sobre as ondas no teu ouvido, minha despedida. Tudo que me falou foi difícil de ouvir, mas necessário e de muita importância. Agora que estou menos nervosa ‘mais’ pensante, posso me colocar diante de ti. Primeiro quero lhe agradecer pelo carinho e consideração em me falar.

      Bem, ser rejeitada não é nada fácil, você pontuou (finalizou) muito bem o seu ponto final. Numa história que poderia ser um conto de fadas ou um romance. Porém tu nos impuseste distância, mas não precisa ser tão definitivo assim. Entendo-te muito bem, e sua postura ainda mais me encantou! Não farei deste escrito uma carta de amor, nem devo —você o rejeitou— seria insensatez da minha parte. Mas cabe lhe dizer que este pequeno fragmento é apenas uma pequena parte do todo que você nunca irá ler... É uma pena para mim; pois eu senti mais uma vez, minhas bases ruírem quando fiquei perto de você.

            Talvez eu nunca tenha sua essência, mas já tenho o brilho dos teus olhos em minhas lembranças teu riso primeiro, teus gestos. Tudo isso não me basta, mas se é isso que me permite ter; então fico feliz, aceito! Pois tudo que não é esperado, recebo de bom grado.

Você expôs com todas as letras que não gosta e nem passa pela sua cabeça tal possibilidade, eu também aceito.  Acredito que ninguém fica magoado (você ficou?) por saber que tem alguém que venera e ama. Mesmo você tendo me falado tudo, a verdade é que nada mudou em mim. Só que agora tenho muitos motivos para passar madrugadas a fio, como tenho passado. Continuo amando o que sinto por ti.       

            Quando for para sua viagem leve em sua bagagem; meu riso que nada terá sentido sem ti ver, leve tudo que me deu. E lá saiba que teu riso é minha agonia; mas se chorar ou ficar triste e se sentir sozinho mesmo quando estiver acompanhada, saiba que tua dor também é minha. E se a felicidade bater à tua porta não a negue; como está fazendo comigo, seja feliz! Nas minhas madrugadas, eu terei de ti, apenas lembranças e mais nada me é permitido — nem mesmo um abraço— é só isso que tenho, e de tua felicidade nem de longe terei acesso, mas quando eu olhar para o céu na madrugada vazia; terei teu olhar no brilho das estrelas. Isso não me bastará; mas me manterá viva e forte para que tu possas ter a possibilidade de escolha; se tudo estiver mal, eu mesmo que de longe te abraçarei te protegerei em meu coração! Porque é nele que sempre tu hás de habitar!

            Perdoe-me, pois terei que lhe corrigir. Você disse que primeiro dever-me-ia informar sobre você antes de construir ideias a seu respeito e aí eu te pergunto, como assim? Isso que você e falou me trouxe grande preocupação, talvez tu desconheças o amor, desculpe. Sei que devemos ter controle dos sentimentos, mas o amor esta acima de tudo isso, e quando existe o controle parece algo inconsistente (moldado) — o amor não tem forma. E quando podemos medi-lo, aí não é amor ou é amor pobre daqueles de quinta categoria— amor medido é pobre— e o que sinto é libertador; belo, verdadeiro. Meu senhor é uma pena que você não me possa alcançar.  O amor não deve nunca perguntar ele invade, e só ele pode invadir (desestruturar) estou assim tomada por uma força que me domina e retroalimenta.

            Eu nem vejo o que tu veste o que calça; eu vejo além de tudo isso, como se eu tivesse uma visão tridimensional do teu ser.  Eu não preciso saber de ti, eu sei de mim.  O quanto te sinto tudo é real.  Agora se tu tens amores, amante nada disso importa é mero detalhe “o essencial é invisível aos olhos” o que possa lhe assegurar é que eu sou cativa de ti. E este amor meu querido é sem cor, sem forma, mas tem cheiro (essência), e eu senti o puro exalar que emana do mais profundo âmago do teu ser, talvez tu o desconheças; isto é amor!

            Hoje, eu escrevo este fragmento nos meus últimos suspiros de vida, esta que tu me deste. Agora despedaçada! Evitarei tua presença mesmo que meu corpo clame por ti, eu contra minha vontade, mas para prevalecer a tua, nego com lagrimas nos olhos e na alma este amor! Estou reduzida a qualquer coisa de nada, te perdi. Juro-te que só não posso é apagar tudo teu que esta em mim, pois tu me desta paixão eu que estava estática tive movimento eu finalizo, lhe fazendo um pedido: tenha ódio por mim, sinta asco, sinta algo. Assim quem sabe o tempo não modifique esses sentimentos e tu possas sentir a intensidade de um amor verdadeiro. Porque na vida tudo passa menos momentos vividos com verdades e só têm certeza da morte.

             Quando lhe enviei sementes, tu não estavas com o solo fértil; o sol foi intenso, a chuva não teve limites, e nada brotou de ti. Mas mesmo machucada continuo lhe enviando sementes mesmo que tu me prives de brotá-las. E eu aqui, neste ônibus vendo tudo passar pela janela, tenho uma dor visceral que permanece e enquanto o ônibus se distancia de Campos. eu sofro como se tivesse sendo açoitada num tronco como acontecia na época dos escravos, percebo que não sou livre e que minha senhora tem prazer em me vê agonizando de dor. Entre gritos contidos, as lagrimas escorem pelo meu rosto e logo chega a meus lábios: salgadas amargas, é um horror meu sofrimento — sou lobo ferido—.

         E aqui senhor eu estou sua escrava cativa, e nada posso fazer além de clamar aos céus que o tempo passe rápido e logo eu possa revê-lo novamente. E tua presença seja água pura que jorra da fonte e trate minhas feridas, banha-me o corpo com tua singela presença! Meu senhor a distância que me impõe é cruel, peço que no mínimo deixe-me desfrutar de tua presença e estando tu aqui ou no Japão nada te impede de me deixar participar da tua vida mesmo como qualquer coisa. Tu sabes onde eu estou e eu sei onde tu permaneces intacto e m mim. Santo imaculado!