Para minha amada filha Yasnaia

CARTA PARA MINHA FILHA AMADA, YASNAIA

Nova Era, 18 de junho de 2007.

Amada filha, Yasnaia. Deus te abençõe!

Maria sempre foi da paz, do amor e da alegria... Sempre foi aceita em todos os grupos em que ia ou fazia parte e nos grupos que vivia. Carismática, bondosa, meiga, amorosa, pacífica, inteligente e já desde cedo, sábia. Todas as manhãs ela abria a janela do seu quarto e olhando para o céu, contemplava o sol, as nuvens, chuvas, brisas...ela não se importava com o clima lá fora, mas esse ritual ela nunca abandonara e junto a contemplação, ela aliviava seu coração. Falava com Deus, agradecendo-o, pedindo-o e assim ia sendo...Ela nunca perdeu a fé, a esperança e o amor em Deus. E isso a fortificava a cada dia.

Após os 15 anos de idade, Maria começou a namorar. E aos 16 anos e 16 dias de idade, ela foi abandonada pelo homem por quem ela tem gratidão até hoje no seu coração, pois para ela ele é o seu herói, seu PAI. Não que ele se esforçasse para ser herói, mas para Maria era assim que ela o traduzia. Foram anos e anos de agonia, saudade, dores, sofrimentos de modo geral. Junto com Maria foram também abandonados o restante de sua família: Sua mãe, que amava tanto esse homem e que dependia dele para tudo... Seu irmão especial, anjo que Deus presenteou essa família, e mais 8 irmãos que se dividiram, já homens feitos por esse mundão de Deus... Sua única irmã, sua mais que irmã, Maria também havia "perdido", separadas geograficamente, ela já profissional, foi tentar a vida no Pará, onde nem telefone tinha...Como o fardo de Maria cresceu, encheu!!! Mas, ela nunca esqueceu de Deus. Mesmo chorando, ajoelhando, orando, ela resolveu que não adiantaria ficar ali, assim, até findar os dias. Ela ainda adolescente, foi pedir seu primeiro emprego como "retratista", num foto que existia naquele tempo. Ela tirava retrato 3x4 preto em branco, revelava o filme sacudindo a vasilhinha preta na mão por 30 minutos e depois, projetava para o papel, secava e cortava as ,sempre, meia dúzia de fotos, o que era comum naquele tempo, no início dos anos 80. Diante de tanto sofrimento, filha, Maria nunca desistia de sonhar e lutar para que seus sonhos se concretizassem. Alguns de seus sonhos eram de casar com um homem bom, honesto, que a amasse, respeitasse... outro era de ter 3 filhos, independente do sexo e se vinha com saúde ou não, a decisão era de Deus, mas sempre desejamos que venham com saúde, né, filha?! Bem, o tempo passou... Maria namorou alguns rapazes, já ficou com outros só um dia, outras vezes, alguns finais de semana, enfim... o que acontece até hoje com vocês! Nesse ficar, Maria encontrou o homem com o qual se casou. Namoraram, noivaram e casaram em 3 anos e logo já planejavam ter filhos. Eram dois jovens. Ele com 23 anos e ela com 22 anos (já era professora). Casaram no ano de 1987...E tiveram você, filha em 1988 com 1 ano e 15 dias de casados. Então, filha...Essa Maria sou eu!!! Você nasceu de parto natural, seguido de inversão uterina, dia 07/03/88 com 3050g e 48 cm. Era numa segunda -feira, às 13:30hs. Todos no apartamento da maternidade nos esperando, outros familiares nos corredores...você saiu da sala de parto e foi muito fotografada...todos estavam felizes. Eu não saia da sala de parto na média de tempo previsto e isso assustou seu pai, sua avô Cici, minha mãe, suas tias e tios...e até alguns auxiliares de enfermagem, que desconheciam o que viram: meu útero fora do corpo, que tinha sido puxado com a placenta, ao ser expelida pelo organismo...tomei anestesia geral e para os que me esperava foi uma eternidade, pois demoraram mais de 4 horas para voltar com tudo para seu lugar. Antes de tudo isso acontecer, eu cheguei a ver você no colo do obstreta que a colocou numa "bandejinha" enroladinha num lençol azul, para cordar o cordão umbilical...Só me lembro de ter agradecido a Deus pelo presente que Ele me deu e lágrimas de alegria rolaram no meu rosto feliz, pois eu tinha Você! Daí, com a voz meiga e cheia de dor, falei com o doutor que eu sentia muita dor. Lembro-me da fisionomia dele, olhando para mim e dizendo para o anestesista: anestesia geral, o útero dela saiu com a placenta...Minha pressão arterial havia caído para 2/1 e a preocupação da equipe médica se redobrou...apaguei, não sabia mais onde estava... Só acordei, digo, abri meus olhos, forçosamente, às 18 hs, aproximadamente... Minha mãe, preocupada porque eu não voltava da anestesia,dava uns tapinhas no meu rosto, levando os familiares ao "desespero", porque tudo era muito novo e o médico disse que era para deixarem que eu acordasse naturalmente. Minha pressão arterial era aferida de 10/10 minutos, nem tiraram o aparelho do meu braço, as fotos provam isso, você as tem no seu álbum de bebê. Já bem melhor, olhei para vc que desejava amamentar...Foi o olhar mais belo que já existiu...Ele te falava de amor, de carinho, de esperança...Eu tinha no meu coração, filha, uma linda oração de agradecimento a Deus. Minha voz falava só de amor e paz para o mundo, emocionando todos que ali estavam presentes. Mais uma lágrima minha rolou... Era o momento mágico: Amamentar você! No primeiro momento precisei de ajuda, era novidade para mim, mas logo peguei o jeito. Eu olhava para você, mamando. Meus olhos reluzia um brilho como o do sol que aquecia os corações. Os meus pensamentos naquele momento sublime era só de amor e nobreza, sem nenhuma soberba... Essa Maria, ainda sou eu, Yasnaia. Sua mãe que sente orgulho de você.

Estamos te educando, filha, para você vencer no mundo...e não para te perder para o mundo, entende? O mundo é cruel, traiçoeiro...por isso, nossa preocupação moderada por você. Tudo que aqui seu pai e eu plantamos, sempre vai existir, porque foi feito tudo com muito amor, dedicação...Cada semente plantada, cultivada,há de dar boa árvore e bons frutos e você há de ter certeza do nosso amor por você. Se não a amássemos tanto assim, talvez desistíssemos de nossos sonhos e te deixava viver na escuridão do mundo. Falo isso, filha amada, porque tá difícil de conversar com você! Você está quase confundiu liberdade com libertinagem...Graças a Deus, nossas conversas ao longo do seu desenvolvimento, foram relevantes e você não se perdeu! Senti seu pedido de socorro e te socorri...mas, se não fôssemos íntimas? Nós já a perderiam para o mundo...Te amamos filha. Queremos o melhor para você. Você chegou a enxergar o mundo com os olhos carnais e não com os olhos espirituais...Sabemos que terá que vê-lo no concreto, porque é nesse que você vive e não nos terá sempre por perto para orientar para a vida.

Hoje, meu coração, minha mente estão sem direção, filha. Vendo você da maneira que vi hoje, doeu lá na minha entranha de onde você saiu para alegrar nossas vidas. A dor ao ouvir você falar sobre o que nos é mais precioso, sua vida, sua forma de viver...nós não te sufocamos...você se sufocou com seu desejo incontrolável do saber, do conhecimento...e quis transferir isso para mim...como se eu fosse a culpada dos seus conflitos íntimos e escolares...Oh! filha... Sempre traçamos limites para você e suas 2 irmãs e ainda continuamos a traçá-los...Vocês sempre ouvem os "sins" e os "nãos" com justificativas...Porque não é capaz de assumir os seus erros, suas dores, seus fracassos? Porque transferir isso para mim? Porque me fazer de seu alvo? Onde está a menina que eduquei? Que era meiga, dócil, bem resolvida? Está no seu íntimo, né filha? Mas com medo do que está vindo e do que estar por vir... A vida é uma longa estrada...Você deu ouvidos à falsos amigos e viu como é difícil acreditar cegamente nas pessoas... Confundiram sua cabeça, porque ainda você não está pronta, amadurecida para viver longe de sua família. Foi opção sua...Tem volta...A distância é muito curta, apenas 70 km, para que permaneça nesse sofrimento, nesse conflito. Mesmo com toda dor desse momento, quero te dizer filha querida, eu estou aqui de braços abertos para te amar, aconchegar, te orientar sem nada te cobrar...E saiba que nossas dores vão passar! Venha para meu colo, mesmo que seja apenas para chorar. Estou aqui sempre e se quiser, volte para o aconchego do seu lar, que te fará muito bem...A decisão é sua. Não vou interferir no seu livre-arbítrio, mas posso te mostrar com sabedoria, o que possa ser melhor para você AGORA! Pense direitinho...não há culpados nessa. O que há, filha linda, é um esgotamento emocional desequilibrado. Tudo isso tem jeito de mudar, basta você desejar!

Com amor, mamãe Tetéia.

***Para minha primeira filha, a Yasnaia, quando ela deu uma crise de revolta e que no momento desejava ter uma vida como a dos colegas dela de faculdade, onde ligavam e pediam dinheiro para os pais, cujos não se preocupavam com o bem-estar deles...Então eles matavam aula, iam para barzinho, se embebedavam, drogavam...Nós, pais da Yasnaia não a abandonamos em momento algum. Todos os dias ela nos ligava pelo menos 3 vezes e me contava tudo que se passava com ela na escola e com os colegas...Um dia, deu a louca e ela se rebelou e me agrediu com fortes palavras. Sintetizei ao máximo. Espero que dê para perceber, caro leitor, a essência dessa carta. Ela voltou para casa. Já é formada em Engenharia de Produção. Faz pós em Engenharia de Segurança no Trabalho e formará em março/2011. Está conosco. Dócil, meiga e trabalhando com o pai, enquanto não é chamada para alguma empresa que enviou curriculum e outras que fez concurso, passou e está na espera de ser chamada, pois até entrevista já fez e foi bem-sucedida. Está com 22 anos e na expectativa. Pediu-me desculpas por esse ato, logo alguns meses depois...Continuamos a nos amar de todos os nossos corações...E a dialogar, o que é fundamental em todas as relações.

Abraços.

Tetéia.

17/07/2010