louvor

traí meus gritos de não-fé, pois ainda recolho em mim devoções e notas frias de um querer harmônico que queimou-me em febre. é você que habita minhas lembranças mais doces e as dores irremediáveis. não me peça para estancar a ferida, pois ela já se transformou em câncer.

corrosiva e mortal essa sua marca toma conta de vísceras, caminha pelos vãos de carne, úlceras, veias e toma a esta pele alva e flácida.

por cansaço de procuras vagam outros nomes nessa rede infindável de toques e amores que vivo, mas inconsciente esse mito em que você se transformou derriça minha condição de guerra e ateia fogo em todas as bandeiras brancas.

sangro.

e o fruto de meus lábios brandos pedem lúcidos seu beijo e seus olhos em mim.

mesmo que soe falso e incompreensivo diante de minhas inquietações, curra-me com louvor e me faz deusa por um instante.

sou incoerente quando desejo, mas expulso-te de mim, numa tentativa de preservação.

exorcizo-te, mal bendito! que toma minha calma e me liberta para o sofrimento!

não me dou ao trabalho nem de esperar, a multidão de desamados já não suporta o peso da derrota.

todas as ilusões choram sua falta, mas sorrio morna.

amanhã quem sabe?

Larissa Marques
Enviado por Larissa Marques em 22/07/2010
Reeditado em 10/01/2011
Código do texto: T2393229
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