Sejamos fiéis aos nossos ideais, amigo.

Eis que vivo em profundo atrito, num mundo cheio de conflitos.

Minha vida é uma rosa destroçada pela infâmia da injustiça.

Esse mundo, louco, doido; quer levar tudo de mim, meu amigo.

Quer levar minha essência, minha verdade, minhas forças e energia.

Eu me sinto como um prisioneiro de guerra, que tenta em vão escapar do sofrimento e da tortura que lhe são impostos.

Veja esse mundo, caro amigo, e observa quanta podridão há nele.

Há gente chorando e morrendo por falta de pão e outros lançados na corrupção roubam tudo e todos, num jogo de profunda agressão a vida e ao valores humanos.

É difícil viver num mundo assim, principalmente se seu pensamento vai contra a corrente e o pensamento capitalistas e neoliberais.

Parece não existir mais lugar para gente que pensa diferente, gente que acredita numa grande causa, gente que busca por transformações efetivas na sociedade e no mundo como um todo.

Ah, amigo, os ideais são fogo: não se vivem sem eles, mas como é difícil sobreviver com eles nessa sociedade estúpida e injusta.

Onde foram parar nossos sonhos? Onde foram parar a vontade e a luta por um mundo mais justo?

As pessoas se perdem, valorizando pessoas padronizadas e criadas pelas mídias.

Elas criam idolos, veneram gente apenas por sua beleza e aparência, colocam o dinheiro e os valores materiais à frente das necessidades e da vida do ser humano.

É, amigo, vivemos num mundo temerário, onde a violência da exploração e corrupção reinam triunfantes.

Deus, a onde vamos parar?

Que faço eu para não mais sofrer?

Como estancar as dores e as feridas que tanto sangram?

Como suportar tanta agressão, tanta sujeira?

Meu Deus, quanta doideira!

Estamos mergulhados na loucura.

Jogados em calçadas frias e escuras, sendo impedidos de desenvolver nossa humanidade.

Tem monstro descartando gente e jogando com a vida de pessoas.

E de todo desperdício que há no mundo, o que mais me preocupa é o desperdício de vidas.

Mas fazer o que além de criticar, esbravejar, lamentar e lutar através dessas simples palavras?

Como monstrar ao mundo que caminhamos por entre trevas e que precisamos desesperadamente encontrar a luz da justiça e da paz perdida?

Ah, amigo, eu não tenho respostas, não, eu não as tenho. Só tenho a dor e a angústia de uma lúcidez surda que todos chamam de loucura.

Sou tido como louco porque meus pensamentos estão fora de moda.

Eu me preocupo com o mundo, enquanto a moda é se preocupar em trabalhar feito burro para conseguir carros, celular e outros bens de luxo.

Sou tido como louco pois não sou conformista, e não me satisfaço com a realidade vivida.

Eu não acho que esconder a cabeça num buraco resolve os problemas.

Vivemos numa bomba relógio e não adinta fingir que não fazemos parte dela.

O mundo está aí, com sua realidade exposta, e não adianta se esconder, nem chorar; tem que lutar.

Não tenho medo de ser tido como louco pelo que penso, pelo que sou; mas tenho medo da loucura desse mundo que condenou a maioria dos seres humanos a solidão, ao estranhamento perante os outros, a aniquilação e desigualdade.

Somos frutos de uma ambição desmedida daqueles que são donos do dinheiro, donos do poder.

Vivemos massacrados pelo poder da mídia que dita o que vestirmos, o que comermos, onde ir e até como pensarmos.

Somos escravos da corrupção, da violência, do tráfico de drogas e até de gente.

Nossas crianças são mal amadas, exploradas, violentadas e na maioria das vezes na própria casa.

Mulheres são espancadas, mal amadas, violentadas e muitas vezes também espancam e violentam a si e aos outros.

Homens se perdem na solidão, no desemprego, na violência e no descuidado com a saúde.

Pessoas (homens, mulheres e crianças) se vendem rotineiramente pelos mais diversos motivos.

Vidas humanas são jogadas foras como copos descartáveis.

E sabe, amigo, eu não me considero louco, louco mesmo é esse mundo doente, do qual eu e você fazemos parte, e não dá para simplesmente se esconder numa caverna vendo o mundo se acabar.

Precisamos gritar mesmo que ninguém ouça, mesmo que seja apenas a sombra de um grito rouco de uma voz cansada.

Precisamos nos expressar, desabafar e descrever em palavras o que vai em nossa alma.

Cada qual escolha sua forma de luta, mas lute.

Você pode até achar que isso de nada adiantará, mas se não podemos salvar o mundo, podemos pelo menos tentar salvar nossos sonhos, nossos ideais e nossa essência.

E para fazer isso, amigo só é preciso uma coisa: sermos fiéis a nós mesmos, a nossa verdade e aos nossos ideiais de homem e de mundo.

Marcos Welber
Enviado por Marcos Welber em 25/08/2010
Reeditado em 26/08/2010
Código do texto: T2458051
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