Pode virar poesia...

essa carta nasceu na montanha

onde voce desenhava pássaros

ela é como a água que congela nas rochas

e depois as faz rachar

(tem tanta culpa quanto à água)

não era voce quem tinha razão...

essa carta é que foi ingênua

ainda fecha os olhos e pensa em ti

(envia o desespero)

a luz do dia clareia ainda mais suas lembranças

passam perante seus olhos

com toda força da realidade

por favor, fique esperando na varanda

não sei para onde enviar esta carta

e não sei se vai querer recebê-la

(escrevo para mim mesma)

se acaso voltarem, as esconderei

junto às noites que não são contigo

junto à voz dentro dela silenciada

juntamente as coisas que não dissemos

matei todas elas

nessa carta brotam lágrimas

começam bem de leve

depois escorrem a maldição de relembrar

(são lágrimas de mulher, pertencem à mulher,

são sagradas)

naquela noite encontrei a carta

caída no chão, paralisada...

o amor opaco no papel envelhecido

(às vezes ainda sonho que sou a alma dessa carta)

por favor, deixem-me à sós com ela

nessa noite enterrei a carta

e afundei a alma no rio

(a carta dorme, sempre sua,

revirada na inquietude do querer)

Vania Lopez

Vania Lopez
Enviado por Vania Lopez em 15/09/2010
Código do texto: T2500146
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