Levei algum tempo

Durante muito tempo, um tempo que parecia infinito, que parecia distante e incalculável na passagem, eu acreditei em promessas que inventei. Vivi minha vida somente para cumpri-las, segui-las e fazê-las valer como se disso dependesse meu próprio viver. Eu sabia que precisava acreditar em alguma coisa além de livros ditos sagrados, em retóricas afetadas, discursos vagos que não imitavam em atos o que pregavam. Eu possuía a necessidade de crer em algo que se realizasse e que me fizesse bem. Por isso, acreditei tão fielmente nesse amor que você dizia sentir por mim.

Durante muito tempo, um tempo que parecia uma incógnita, que não se mostrava nos espelhos, que mantinha sua vida paralela enquanto eu me dedicava somente a você; durante muito tempo mesmo, eu fiz coisas por essa crença em seu amor que ninguém jamais acreditaria. Não como acreditei. Não como fiz. E em nenhum momento carreguei comigo um grão que fosse de arrependimento. Eu cria. E nada neste mundo poderia arrancar de mim aquilo o que me dava vida, que me punha em movimento, que me fazia romper distâncias, preconceitos e ir além de meus limites, buscando estar dentro de um tempo que não me cabia - o seu tempo.

Então, depois de todos os tempos, que no final somam um somente, alguma razão despertou o que parecia adormecido em mim. A inércia foi violentamente sacudida por uma sequência de dissabores e decepções que fizeram romper com toda aquela confiança, com toda aquela força que envolvia o que eu entendia por mais sagrado. Aquele amor, por mim tão cultuado, foi profanado por você em palavras que o diminuíram, que o tornaram vulgar e sem a menor perspectiva de sobrevivência. Foi quando tristemente percebi que todo o tempo que perdi, tardiamente, foi o tempo de minha inocência. Inocência diante de algo que eu considerava tão puro, enquanto você zombava; inocência diante de algo que eu considerava tão importante, enquanto você desprezava; inocência diante de algo que eu via imaculado e você, sem a menor cerimônia, encheu de lama.

Não posso entender como ainda hoje, depois de tudo o que me fez, e continua fazendo, ousa dizer (como faz com qualquer um) que tem saudades de mim e me ama...

LEÃO FERIDO
Enviado por LEÃO FERIDO em 11/10/2010
Reeditado em 10/03/2013
Código do texto: T2551179
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