As palavras que nunca te direi...

Recordo meus tempos de menina, lembras tia? Quando eu regressava da escola com aqueles vestidos rendados, e minha pasta de couro, cabelos curtos, olhos azuis, sempre falando pelos cotovelos. Às vezes resmungavas, cansada pelo trabalho exaustivo, mas sempre tinhas tempo para escutar.

Corria para o meu baloiço e ai sonhava ser grande um dia e nunca mais parei de sonhar.

Os tempos eram lindos, nunca dei a menor importância às coisas e agora eu recordo com nostalgia e saudade. Gostaria de fazer o tempo voltar atrás e poder dizer o quanto eu te amei, quanto fostes importantes para mim e te mostrar que tu foste o melhor ensino que a vida me deu.

Diria que nenhuma faculdade daria os valores e princípios morais conjuntamente com tua sabedoria. Sempre tinhas uma palavra de calma, tinhas uma palavra que enchia nossos corações de paz e amor, por todos, eras amada e nunca o soubeste. Estranho, Tia como é preciso partir para que muitos vertessem a lagrimas de dor e saudade. Ainda escuto muitas vezes entre desabafos de família “A falta que ela me faz”, pois ai fica uma questão, porque nunca falaste amo-te...

È tia, por vezes somos, sempre tão egoístas e gostamos de receber e nunca partilhar, partilhar é preciso aprender, confesso que fostes uma bela professora a melhor que poderia ter.

Na minha caminhada e sei que onde estás, estás observando e vendo, em cada ação eu recordo as tuas palavras e revejo a tua sabedoria antes de agir em vão, resulta sabias?

Lembro das minhas traquinices de menina, dos meus medos, das minhas batalhas do saber e sempre esteve lá presente, em cada coisa, paciente e cuidadosa.

Lembro da minha saída do teu ninho, da tua proteção e confesso que chorei muitas noites a fio pela saudade e pelo medo do que a vida reservava e tu sabes o que ela reservou, verdadeiras batalhas.

Muitas vezes via o teu olhar triste, por sentires incapaz de viveres a vida por mim porque somente a mim era imposta a caminhada.

Confesso que fraquejei muitas vezes, muitas vezes eu olhei para o céu e perguntei.

Pai onde estás tu? Porque esqueceste de mim?

Lavada em lagrimas muitas vezes entrei na minha catedral, ajoelhando, pedindo a Deus força e orientação para suportar as dores do meu caminhar, eram muitas, quantos prantos nunca foram enxugados.

Hoje eu queria te falar tantas coisas, mas tu não estás aqui, não te posso abraçar, sentir o teu calor e escutar as palavras sabias que saiam pela tua abençoada boca.

Hoje eu queria contar as vitórias das minhas batalhas, o que escrevi no meu livro da vida, mas eu sei que tu sabes que fazes parte dele e que soubeste amar-me como nem os meus pais biológicos souberam amar um dia...

Um dia tia, vai reencontrar e juntas vamos colocar nossa conversa em dia.

Até um dia breve eu te amo.

Tua afilhada

Elizabete

Betimartins
Enviado por Betimartins em 14/10/2010
Código do texto: T2556360
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