Os meus porquês de votar em José Serra

Caros amigos e amigas,

Nesta semana, como já é sabido por muitos de vocês, decidi sair do anonimato quanto ao meu voto no 2º turno. Fiz isso devido ao grande movimento dos meios de comunicação de massa, de políticos, de artistas e de militantes petistas os quais têm atacado injustamente e severamente os evangélicos de todo o Brasil e o próprio candidato José Serra.

Declarei meu voto em José Serra e aqui darei breves explanações sobre isso, haja vista que muitas pessoas pensam que estou fazendo isso apenas por motivos religiosos. Isso não é verdade e, mesmo que fosse, eu, com certeza, admitiria. Nunca tive vergonha ou medo de manifestar minhas opiniões religiosas, políticas, sociais e morais. Vivemos em um país democrático e nossa bela Constituição assegura-nos o direito à liberdade de expressão.

Antes de dizer os porquês do meu voto, farei uma pequena exibição do que, a meu ver, está ocorrendo na América Latina e, em especial, no Brasil.

A América Latina, no início do século XXI, vive um processo de neopopulismo. Relacionado a esse processo, vejo que o personalismo político está em evidência. Os cidadãos, atualmente, no geral, não votam em um partido ou em uma ideologia, mas votam em uma pessoa em si, ou seja, o voto é dado a uma pessoa por causa dessa pessoa em si. Isso não é bom para o jogo político, pois pessoas com boa oratória ou até mesmo que estão na mídia e que possuem caracteres populistas, isto é, pessoas que cativam o povo, podem ser eleitas sem nenhum vínculo com qualquer ideologia política. Vale ressaltar que líderes paternalistas e populistas exercem uma influência tão grande sobre a “massa humana” que podem até propagar ideias não condizentes com as leis do país do qual fazem parte e, mesmo assim, não são questionados e a popularidade deles não é afetada. Recentemente, o presidente Lula falou em extirpar um partido político brasileiro. Isso é, no mínimo, um absurdo. Nossa Constituição admite e assegura a pluralidade partidária. Líderes paternalistas e populistas elegem-se, reelegem-se e elegem sucessores, ou seja, tem um domínio do poder tão expressivo que são obedecidos e aplaudidos cegamente.

No que diz respeito ao Partido dos Trabalhadores (PT), não quero votar em um partido que foi contra a promulgação da Constituição de 1988 (Hoje, o PT elogia nossa Constituição.), que foi contra a instituição do Plano Real (Hoje, o PT ama o Real.), que foi contra a privatização do setor de telefonia (O PT amava os orelhões e as fichas.), que foi contra a reeleição instituída no período FHC (Interessante que Lula foi reeleito!), que é constituído por diversas pessoas que foram favoráveis à luta armada no período do regime de exceção e que manteve relações muito amistosas com ditadores (Fidel Castro, Hugo Chávez e Marmud Ahmadinejad), quando, na realidade, deveria cobrar fortemente desses ditadores que eles respeitassem os direitos humanos universais.

No tocante à candidata Dilma Rousseff, não quero votar em uma ex-guerrilheira, se ela quis tratar seus inimigos a base da chibata, imagine o que fará com seus opositores políticos. A candidata Dilma disse que pessoalmente era contra o aborto, mas afirmou que o aborto é uma questão de saúde pública, ou seja, se a mulher abortar porque simplesmente quis ela não deverá ser julgada e sim cuidada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A candidata está sendo, no mínimo, contraditória. A legislação brasileira só permite o aborto em dois casos: quando a mulher foi vítima de estupro ou quando a vida da mulher está em risco. Sendo assim, qualquer aborto praticado fora dessas circunstâncias é crime e a mulher deve ser julgada pelos seus atos ilegais. Se não queria ter o filho, que tivesse se precavido anteriormente.

Vou também citar, mas não vou aprofundar o assunto sobre o apoio dado pela candidatura petista ao Movimento LGBTT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais). Não sou homofóbico, mas sou contra a prática da homofilia e contra a aprovação de leis que impeçam a manifestação de igrejas e de pessoas contra a prática da homofilia. Friso que, nós cristãos protestantes, não odiamos os homofílicos, até porque se os odiássemos estaríamos sendo contrários ao que Cristo nos ensinou sobre amar o próximo como a si mesmo, mas somos contra a prática da homofilia e defendo o direito de sermos contra qualquer tipo de prática não condizente com as nossas doutrinas cristãs devido ao nosso direito à liberdade de expressão.

É interessante observar também que Dilma apresentou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um programa de governo, mas com pouco tempo retirou-o, pois não houve uma conivência entre os partidos que formam coligação com a petista. Não posso votar em uma candidata que ainda não possui um programa de governo elaborado. Dilma também diz que continuará o que Lula fez. Isso é um erro. Não quero votar em uma candidata que continuará com os acertos e com os erros. Ela deveria continuar somente com os acertos e sugerir algo novo como a implantação de programas de terceira geração e deixar de lado, gradativamente, esses programas assistencialistas que apenas resolvem o problema no presente, mas que o projetam para o futuro, ou seja, daqui a alguns anos o Estado brasileiro não suportará o pagamento a milhões de brasileiros de benefícios assistencialistas. Esses programas são ótimos para ganhar votos, mas são péssimos para o Brasil no sentido de que deixa o povo totalmente dependente do Estado. Deve-se ensinar a pescar e não simplesmente dar o peixe.

Em relação aos escândalos, foram inúmeros em diversas áreas. José Dirceu, Antônio Palocci e, mais recentemente, Erenice Guerra. É interessante que foram abusos cometidos na mais alta cúpula do governo e o povo ficou totalmente apático. Conformaram-se com as declarações dos líderes do governo: “Eu não sei de nada” e “Eu não ouvi nada”. Ainda existem pessoas que veem esses escândalos como algo positivo. Dizem que os escândalos estão aparecendo, porque está havendo investigação por parte da Polícia Federal (PF). Ora, a PF tem agentes que são concursados, ou seja, entra governo e sai governo e os agentes são os mesmos. Se estão dizendo que só estão aparecendo escândalos agora porque a PF está investigando, estão afirmando que em outros governos a PF não investigou e por isso os escândalos não apareceram. Isso é uma mentira. A PF é uma instituição séria e ela investiga independentemente do partido político que está na situação. É bem verdade que a corrupção está inserida em todas as instituições públicas do Brasil, mas a própria PF investiga os seus próprios funcionários e é uma das instituições mais sérias e confiáveis deste país.

Voto em Serra, por não concordar com vários pontos da candidatura petista já explicitados no meu texto e por concordar com propostas de Serra. Concordo: com a Criação de uma rede de 154 AMES (Ambulatórios Médicos de Especialidades) em todo o Brasil; com a criação de um milhão de vagas de ensino técnico profissionalizante, por meio da abertura de novas ETECS e FATECS (Escolas Públicas de Ensino Técnico de Nível Médio e Superior) e do PROTEC, programa de Bolsas de Estudo em instituições conveniadas de qualidade comprovada; com a garantia às Universidades Federais de condições adequadas de funcionamento para o ensino, para a pesquisa e para a extensão; com a ampliação do investimento em pesquisa científica; com o aumento do salário mínimo para R$ 600,00 já em 2011; com a implantação de uma Política Nacional de Mudanças Climáticas, com metas compulsórias de redução de emissão de carbono e incentivos à Economia de Baixo Carbono; com a criação do Ministério da Segurança Pública para enfrentar, com organização em nível nacional, o contrabando e o tráfico de armas e de drogas; com o fato de fazer pressão diplomática junto aos países vizinhos para que reprimam o comércio ilegal, principalmente de armas e de drogas; com a criação de Clínicas Públicas de Tratamento de Dependentes de Drogas e com o fato de fazer parcerias com entidades da sociedade civil, enfim, concordo com essas propostas e com as demais que podem ser encontradas tanto no site (http: www.serra45.com.br.) quanto no registro do programa de governo do Serra no TSE, ao contrário da candidata petista que não possui um programa de governo nem no TSE e nem no próprio site, inclusive, no site dela diz que o programa de governo ainda está sendo discutido.

Quero aqui rebater as críticas que estão sendo feitas aos cristãos protestantes do Brasil. Não fomos comprados nem por Serra e nem por Dilma. Os dois candidatos já dialogaram com as maiores lideranças das Igrejas Cristãs Protestantes do Brasil e a maior parte desses líderes depois das conversas com os dois candidatos, decidiu apoiar Serra. É um apoio programático, isto é, formulado em programas e não em ofertas monetárias. Quanto aos que dizem que os cristãos protestantes não devem se envolver com a política, quero dizer que somos cidadãos da terra e cidadãos do céu. Enquanto cidadãos da terra, devemos sim estar envolvidos com questões que nos envolvem, inclusive com a política. Se o Estado não quer que a Igreja envolva-se em suas questões, então o Estado não se envolva com as questões da Igreja, ou seja, não aprove leis que não condizem com nossas doutrinas cristãs.

Em suma, no 1º turno, votei em Marina Silva. Não sou petista e nem tucano. Sou verde, ou seja, estou vinculado ao Partido Verde (PV). Agora, no 2º turno, não quis escolher o voto nulo ou o voto em branco por pensar que esses tipos de voto demonstram uma apatia social, ou seja, anular o voto é dizer que tanto faz como tanto fez. Vejo diferenças entre as candidaturas propostas e, por isso, escolhi uma. Não quero que todos concordem comigo, mas pretendo que votem crítica e conscientemente. Nada de voto por gratidão a Lula. Isso é um argumento petista muito esperto, mas, ao mesmo tempo, muito errado. O presidente Lula está sendo um dos grandes presidentes da história deste país, mas cometeu e comete erros típicos de líderes populistas. O presidente Lula prometeu e cumpriu com muitas de suas promessas e isso é o que deve ser feito por cada governante. Ele fez muito pelo Brasil, mas isso era obrigação dele. Concordo com o voto crítico e consciente, mas menosprezo essa balela de voto por gratidão.

Atenciosamente,

Saullo Pereira de Oliveira.

Fortaleza, 22 de outubro de 2010.

Saullo Pereira
Enviado por Saullo Pereira em 23/10/2010
Código do texto: T2573104
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