A clareza de tua felicidade – machuca

* Não é certo que teu sorriso tão branco seja exibido no dia de hoje. Pode até ser certo, mas é injusto. Logo nessa manhã da qual minha tristeza é tão precisa, tão transparente.

* Esse teu sorriso me encantou, teu riso me incomodou. Uma risada intensa, que transmitia a felicidade de maneira inquestionável. E eu, ah, eu sou de uma estranheza que não há como compreender. Ontem eu daria tudo para te fazer sorrir. Hoje eu daria o mesmo tudo para cessar teu som inconfundível, irritante e feliz. Ontem eu só queria cuidar de você, e hoje te ver bem me faz doente. Enfim, ontem eu sabia como te amava e muito, mas hoje pouco sei como é esse amor.

* Você irá atingir meu campo de visão com os dentes brancos e dirá “Tudo bem?”, sem estar interessado. E eu direi que sim, sem convicção. Tu talvez até percebas que nada vai bem, mas prosseguirá o assunto a fim de contar de si próprio. E eu escutarei atentamente, assentirei quando necessário e mostrarei demasiado interesse. E tu estarás sorrindo. Cegando-me com a claridade do sorriso. E eu estarei fingindo que tanto faz. E tu estarás confidenciando intimidades, segredos e particularidades. E eu estarei me indagando se eu preferia não saber...

* O que dói não é apenas o sorriso - que de tão sincero torna-se claro e nítido, e de tão nítido queima minha retina com a brancura. Também não é o riso irritante ou teu aspecto absolutamente satisfeito que me fazem todo o mal. Não é por você sentir-se completo e contente. O que dói, dói mesmo é saber o porquê de tamanha alegria. É saber que com isso nada tenho a ver.

Priscila Silvério
Enviado por Priscila Silvério em 23/10/2010
Código do texto: T2574026