Subtileza ao te descrever

* Eu encho minha cabeça de você. Encho tanto que ela explode e já não posso te deixar pairando pelo ar. Aí procuro pegar pedaço por pedaço e te reunir, sou tão gentil nas imagens que crio. Sou mais ainda no papel, quando te reinvento por completo e dou a forma mais bela, o jeito mais sincero e o sorriso mais branco.

* E todos manifestariam um aspecto descrente se escutassem tamanho absurdo. Não é comum a palavra gentileza ter como sujeito a minha pessoa. Porém, é exatamente isso que acontece. Um absurdo. Um absurdo de fantasias que preponderam minha mente, um absurdo de promessas que se infiltram nos ouvidos e um absurdo de possibilidades que ficam rondando o ambiente.

* Você vem e me abraça. Abraça-me sem se preocupar quantas noites isso vai me custar. Quantas noites levarei para que o cheiro da tua pele na minha se dissipe das recordações? Você vem e dá uma risada tão longa, que eu conheço a reprodução e a tonalidade. Há algo nessa risada que me deixa oco por dentro. Há algo nessa risada que me desprende de qualquer problema, de qualquer necessidade e de todas as violências que meu cérebro trava com o restante do organismo. Esqueço que não sou feliz, esqueço que não sou honesto e esqueço – principalmente – que não estou com você. Mas quando a tua alegria ressoa nos cantos da casa e se impregna no meu ouvido sou transformado. Torno-me feliz e verdadeiro, torno-me seu eterno amor! Além de me abraçar e de rir, você se utiliza de todos os outros poderes físicos. De todos os outros poderes espirituais. Você não poupa recursos quando a questão é encantar. Usa dos cabelos – sempre bem cuidados. Usa da presença – sempre de grande intensidade. Usa de tudo mesmo para poder conquistar. Parece que em cada oportunidade quer causar mais impacto, quer seduzir até o ponto de tornar maluco. Eu por mim me encantaria por você todos os dias, mesmo que isso custasse minha lucidez. Infelizmente, são raras as chances. E eu tenho que absorver tuas artimanhas, e eu tento reter na memória cada pormenor para, mais tarde, construir você nessa folha. E tenho certeza que apesar de toda a atenção que deposito naqueles instantes, acabo falhando. Deixo passar muitos detalhes que seriam considerados insignificantes para olhos desatentos, mas que em meu mundo são de demasiada importância.

* Tudo que você faz é relevante: o movimento dos olhos ao perscrutar a sala ou a página do livro, o embalo do corpo ao dançar a música lenta ou a batida animada, até mesmo a presteza das mãos que auxiliam quando conta longas histórias. E as histórias compridas são gesticuladas com uma agilidade que nunca vi em outros dedos, que nunca encontrei em outro ser; eu sou apaixonado pelos ombros que orientam o braço e que ajustam as mãos morenas. Tudo isso, cada particularidade de teus gestos estão agravados na memória. Estão como prioridade no meu dia a dia e no meu papel. Agora só levanto para procurar caneta quando você encontra minhas idéias para repousar.

* Eu estive com você e apreendi teu abraço, guardei teu riso e decorei teus movimentos. Eu estive com você e fui perceptivo quanto aos teus olhos, fui atento as tuas palavras e me surpreendi com teus atrevimentos. Com teu riso descaradamente oferecido ou tua pele exageradamente morena e próxima de outros pretendentes. Eu estive com você e tive uma visão bastante clara de como são seus modos e atitudes. Agora posso dizer – sem medo de equívocos – que você é de uma qualidade excelente. Você carrega tuas imperfeições de maneira transparente, e estas só não alteram a maravilhosa imagem que constrói porque está encoberta de gentileza.

* Isso é o que eu declaro, mas muitos irão achar a coisa toda duvidosa visto que acabo sendo muito benevolente ao te depositar no papel, faço de maneira tenra e encho de gentileza nas imagens que crio. Não meço palavras boas, uso-as sem discernimento; eu costumo colorir o preto e alegrar o melancólico quando se trata de ti. O resultado é esse, uma suavidade, uma decência... Fica levíssima a forma que te dou.

Priscila Silvério
Enviado por Priscila Silvério em 04/11/2010
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